segunda-feira, 30 de junho de 2014

Abertura comercial somaria 1,25 ponto ao PIB


Um estudo da McKinsey, umas das mais conceituadas consultorias de economia e de negócios, mostra que o Brasil anda dando as costas para o mundo - e ganharia muito se o encarasse. Com quase 100 páginas, a pesquisa intitulada “Conectando o Brasil ao mundo: um caminho para o crescimento inclusivo” mostra as deficiências do País para concorrer internacionalmente e sinaliza medidas para que ele se torne mais aberto, produtivo e competitivo.

Para defender a abertura, o consultoria leva em conta sua experiência com o tema. Estudos feitos nos últimos 20 anos pelo Instituto Global McKinsey identificaram que países dedicados a ampliar as conexões em escala global registram acréscimo de até 40% na geração de riqueza. Isso ocorreu porque a concorrência internacional criada pela abertura gera choques de gestão, de inovações e um quadro geral de modernização que elevam a produtividade.

No caso do Brasil, pelas estimativas da instituição, uma maior abertura - não apenas comercial, mas também por meio do intercâmbio financeiro, de prestação de serviços e até de talentos humanos - elevaria a produtividade e acrescentaria, anualmente, 1,25 ponto percentual ao Produto Interno Bruto (PIB). “A abertura pode fazer uma grande diferença para economia e nós temos vistos mudanças significativas em três a cinco anos, porque as indústrias podem responder com muita rapidez”, diz Jaana Remes, que lidera a área de pesquisa em produtividade, competitividade, urbanização e manufatura do Instituto Global McKinsey.

Desde os anos 1990, o Brasil fez movimentos para se tornar mais aberto, mas segundo o estudo as reformas têm sido irregulares. Enquanto alguns setores ficam totalmente expostos à concorrência internacional, outros permanecem fortemente protegidos e tributados. Para ilustrar os efeitos de ser mais ou menos fechado, o estudo recorre à análise de dois setores de peso na economia nacional - o agronegócio, que se tornou campeão global em competitividade após a abertura nos anos 1990, e o setor automotivo, um dos mais blindados contra a concorrência internacional e que, apesar de composto por multinacionais, apresenta deficiências.

As falhas e o potencial do País ficam claras quando se olha o Índice de Conexão Global, elaborado pelo Instituto Global McKinsey. O ranking mede o nível de conexão de 131 países - praticamente metade das nações existentes. O Brasil ocupa a 43ª posição. Não parece ruim à primeira vista, mas o País está abaixo de emergentes com níveis similares de desenvolvimento, como Rússia (9ª), China (25ª). México (27ª), Índia (30ª) e Chile (41ª).

No quesito que trata de trocas comerciais (importação e exportação), o Brasil está na posição 39. As trocas brasileiras equivalem a praticamente um terço das do Chile, que tem área e economia bem menores. Em serviços, está na 40ª posição. As exportações de serviços representam apenas 1,8% do PIB do Brasil - abaixo da média latino-americana (4,1%) e muito longe da indiana (8%). Em comunicação, que valoriza a troca de dados entre pessoas, empresas e governos, o País está em 38º lugar.

O Brasil tem um desempenho melhor num único item - o intercâmbio de serviços financeiros, que inclui atividades bancárias, captações no exterior, investimentos de fundos e operações em bolsa de valores. Nesse caso, o País está em 15º lugar. Ainda assim, a relação é desproporcional. Está entre os dez países que mais recebem investimento direto estrangeiro, mas tem saídas mínimas para investimentos em outros países.

Proteção tira produtividade do setor automotivo

O Brasil é o 7º maior produtor mundial de automóveis, mas é o 21º em exportações. Apenas cerca de 15% dos veículos fabricados no País são exportados. Para completar, nos últimos anos, uma parcela desproporcional vai para a Argentina. As tarifas de importação de automóveis incentivam as montadoras estrangeiras a estabelecer linhas de montagem no Brasil para criar empregos locais.

No entanto, na avaliação do Instituto Global McKinsey, essa abordagem não ajuda o Brasil a se integrar em cadeias globais de valor, o que leva a indústria automotiva brasileira a perder produtividade em relação a seus pares. No médio e longo prazos, a perda de produtividade pode ameaçar até os empregos que se tenta preservar.

Na avaliação de Letícia Costa, diretora do Insper, é complexa e polêmica a discussão sobre a exposição do setor à economia internacional. A produção de veículos representa cerca de 20% do setor industrial do País.

No início da década de 1990, o setor permanecia fechado, e o consenso geral era que estava estagnado. Para dinamizá-lo, indústrias, trabalhadores e governo firmaram um acordo automotivo, com metas de modernização, expansão e exportação. Com ele, foi possível elevar as unidades brasileiras a um novo patamar de produção, investimento e gestão. Entre 1991 e 1993, os investimentos somaram quase US$ 1 bilhão - valor similar ao de toda a década de 1980. Na sequência, os investimentos na ampliação das unidades, de quase US$ 20 bilhões até o fim da década, desconcentraram e diversificaram o setor.

Porém, há o outro lado da moeda. O número de empregos ficou abaixo do esperado, porque parte das novas linhas adotou robôs. As empresas de autopeças, por sua vez, sofreram um baque. O setor era formado por um número grande de empresas que não tiveram tempo, dinheiro e agilidade para fazer frente à concorrência das estrangeiras.

Um fator decisivo foi o câmbio. Expostos à sobrevalorização do real, perderam margem de lucro, enquanto as estrangeiras foram favorecidas a elevar as importações. Várias empresas quebraram ou foram compradas por gigantes globais.

Fonte: Jornal do Comércio – RS

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