terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Brasileiro sofrerá com inflação e juros altos

Analistas preveem IPCA de 6% neste ano e de 5,5% em 2015. Comitê de Política Monetária terá que pesar a mão na Selic para conter reajustes, que minam o orçamento das famílias. Elevação da taxa amanhã deve ser de 0,5 ponto percentual.

Assustada com a escalada dos preços, a auxiliar de enfermagem Maria José Domingues, 61 anos, recorreu a um velho costume, herdado do período em que o país vivia sob a marca da hiperinflação. Ela peregrina, todos os meses, por pelo menos três supermercados. A busca tem um único objetivo: pagar mais barato. Para isso, ela não mede esforços. Se percebe que determinado item está caro demais, não pensa duas vezes. Devolve o produto à prateleira e o substitui por um similar que caiba no orçamento doméstico. “Recentemente, troquei o inhame pela batata-inglesa”, disse a auxiliar de enfermagem.


A rotina de Maria Domingues é repetida por um batalhão de donas de casa que sentiram no bolso o custo da leniência com a inflação. Nos últimos quatro anos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o parâmetro oficial da carestia no país, ficou sempre acima do centro da meta que deveria ser perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano. Em 2014, não deverá ser diferente. Para cerca de 100 analistas consultados pelo Banco Central, por meio da pesquisa Focus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo cravará alta de 6%, quase o limite máximo, de 6,5%, permitido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Mesmo em 2015, seja qual for o presidente eleito em outubro próximo, a carestia continuará a pressionar o orçamento do brasileiro. Pela primeira vez, o BC divulgou as projeções para o próximo ano, e elas são desanimadoras. Pelas contas dos analistas, o IPCA acumulará elevação de 5,5%. Péssima notícia para Maria Domingues, que, diante da alta dos preços, teve de mudar a rotina doméstica. Ela costumava fazer bolos duas vezes por semana. Agora, passou a comprar a guloseima já pronta. “Subiu o preço do gás, do ovo, do óleo, da margarina e da farinha de trigo, enfim tudo”, reclamou.

Em 2013, o grupo alimentação e bebidas aumentou 8,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também incomodou as donas de casa os gastos com serviços. Cuidar das unhas, por exemplo, ficou, em média, 11% mais caro. A explicação para isso, disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, foi a correção, acima da inflação, do salário mínimo.

“A política de correção do mínimo (pela inflação do ano anterior e pelo Produto Interno Bruto de dois anos antes) trouxe benefícios claros à população da classe mais baixa, mas o mesmo não se pode dizer da classe média. Então, a dona de casa que tinha um padrão de vida melhor há alguns anos está, agora, sofrendo bastante, porque a renda dela não acompanhou a alta da inflação”, afirmou.

Desconfiança

A saída encontrada pelo governo para minimizar a escalada dos preços foi tornar o dinheiro mais caro e escasso. Desde abril de 2013, a taxa básica de juros da economia, a Selic, subiu da mínima histórica, de 7,25%, para 10% ao ano, alcançado em dezembro. Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá pela continuidade da alta dos juros. Boa parte dos analistas aposta em mais um aumento de 0,5 ponto percentual, para 10,5% ao ano. No governo, a aposta ainda é de elevação de 0,25 ponto, para que o arrocho não derrube o já frágil ritmo de crescimento da economia. Os especialistas mais pessimistas apostam que, até fevereiro, a Selic estará em 11% ao ano.

André Perfeito não descarta uma dose ainda maior, para 11,25%, na reunião do Copom de  abril. “A questão não é o quanto os juros precisam subir, mas que sinalização o BC dará ao mercado para convencer que está mesmo disposto a pôr a inflação nos eixos. Hoje, a autoridade monetária está trabalhando não só para recuperar a credibilidade de suas ações como a de todo o governo”, frisou.

A mesma avaliação tem o economista-chefe Austin Rating, Alex Agostini. “Acho que o BC não está confortável com a inflação atual, mas também não tem dado sinais de que está perseguindo o centro da meta, de 4,5%”, observou. Para ele, é vital uma resposta mais firme com a disparada dos preços. “O comunicado do BC sobre o IPCA do ano passado, uma nota em poucas linhas, não esclareceu nada. O que todo mundo quer saber é como a autoridade monetária está vendo a inflação. Todos esperam que o Copom seja muito claro sobre isso na ata dessa reunião. Não pode haver mais ruídos”, assinalou.

Nada a comemorar

Projeções de indicadores deste ano e do próximo mostram uma economia bastante ruim

Índices    2014    2015

IPCA    6,00%    5,50%
IGP-DI    5,20%    5,50%
IGP-M    6,00%    5,50%
Dólar    R$ 2,45    R$ 2,47
Taxa Selic    10,50%    11,50%
PIB    1,99%    2,48%
Produção industrial    2,20%    3,00%
Preços administrados    4,00%    5,00%
Deficit externo    US$ 71,6 bi    US$ 71,1 bi

Fonte: Banco Central



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