sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Contadores exploram menos de 5% do mercado


O principal objetivo da contabilidade é estudar a variação e o patrimônio de bens, direitos e obrigações que formam uma entidade, seja ela pessoa física, seja jurídica. Dessa forma, os profissionais da área têm de lidar com os segmentos de economia, direito tributário e finanças e patrimonial, são responsáveis por fazer apresentar os componentes do patrimônio monetário das empresas e têm acesso a inúmeras informações privilegiadas das organizações.

Para esse contingente de mais de 500 mil trabalhadores, não faltam oportunidades de trabalho. Eles podem atuar como funcionários de departamento fiscal, pessoal ou de escrituração contábil, auditor externo ou interno, consultor, proprietário ou sócio de escritório contábil, agente fiscal de tributos, perito contábil, analista de contabilidade, assessor, professor e inúmeras outras funções.

E, para melhorar ainda mais este cenário, não param de surgir novos segmentos de atuação, como a controladoria, contabilidade ambiental, pesquisa científica e educação, terceiro setor, mediação e arbitragem, gerenciamento de risco, gerenciamento de ativo mobilizado e ativo intangível e contabilidade de pequenas e médias empresas.

Apesar desses numerosos campos de trabalho, os contadores brasileiros exploram menos de 5% do mercado porque existe carência de oportunidades de maior valor agregado, uma vez que a tecnologia não é explorada em todo seu potencial a favor da gestão empresarial, conforme entendimento de Othon Andrade Filho, diretor de inteligência do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

Segundo o executivo, a contabilidade serve para que uma empresa seja conhecida na sua capacidade de geração de caixa, nos riscos e oportunidades que representa para investidores, fornecedores, credores e governos, na visualização das práticas que merecem ser repetidas ou maximizadas, assim como naquelas que devem ser reduzidas ou eliminadas e, principalmente, na evolução do patrimônio.

“Em 1980, essa ciência era totalmente manuscrita. O máximo que um contador conseguia fazer era registrar o que ocorria. Analisar saldos, médias, variações era trabalho inviável para a esmagadora maioria das empresas, pois levava meses e custava muito caro”, avalia o especialista. “Em 2000, os sistemas de gestão integrada (ERPs, na sigla em inglês) começaram a ser utilizados nas médias empresas, proporcionando a contabilização automática das operações empresariais. Todavia, 13 anos depois, poucos os contadores dominam esse assunto.”

Othon explicou ainda que, no decorrer de 2013, os ERPs (plataformas de softwares desenvolvidas para integrar os diversos departamentos de uma empresa, possibilitando a automação e o armazenamento de todas as informações de negócios de uma organização) chegaram às pequenas e médias empresas. “O problema aumentou ainda mais”, diz. “Se nas organizações de médio porte faltavam profissionais para compreender o sistema, nas pequenas essa carência é bem maior.”

Na opinião de Othon Andrade, o problema tende a se agravar ainda mais, já que em 2015 será o fim da entrega da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF); em 2020 o fim de algumas obrigações acessórias apuradas automaticamente pelo governo como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

E, em 2022, o término do cálculo da folha de pagamento, do recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), já que apenas o contrato de trabalho e o registro de ponto serão suficientes para o governo calcular a folha de pagamento. “Dessa forma, nos próximos anos, não existirá mais o trabalho braçal dos contadores, que está sendo cada vez mais substituído pelo trabalho intelectual de interpretação, análise e orientação. A contabilidade servirá apenas para a tomada de decisões”, garante o diretor de inteligência do IBPT.

Atualmente, 95% das empresas brasileiras ainda desconhecem o quanto a contabilidade pode contribuir para alavancar os negócios, aumentar a competitividade e as vendas e reduzir os custos. “Quando um empresário procura um escritório contábil, pretende formalizar a empresa, receber o alvará para abrir as portas, calcular os impostos e obrigações acessórias, prestar contas aos órgãos arrecadatórios das três esferas e calcular a folha de pagamento. É muito raro um empresário ir atrás de um escritório de contabilidade em busca de tomada de decisões”, afirma Othon.

Vive-se hoje um período considerado divisor de águas para a contabilidade. Todas as transformações provenientes do Sistema Público e Escrituração Digital (Sped) e das IFRS, as Normas Internacionais de Contabilidade, trazem muitas mudanças de hábitos para todos os profissionais da área. Por isso, é recomendável estar atento às novidades que ocorrem frequentemente, em plena era do conhecimento e da informática, o que exige muito do capital intelectual e a procura de profissionais cada vez mais preparados para atender as exigências do mercado.

Para se adaptar a essa realidade, a sugestão do diretor de inteligência do IBPT é que os contadores utilizem a mesma tática explorada pelas operadoras de TV a cabo: entregar uma degustação. “O cliente, após passar alguns meses com os melhores canais, sente falta deles e acaba contratando o serviço. Se o empresário experimentar um serviço que maximizará seus resultados, também sentirá falta”, comenta o especialista.

Neste sentido, para aproximar a contabilidade dos profissionais da área, o IBPT disponibilizará em 2014 uma central de balanços e de relatórios gerenciais que tornará possível a integração entre o escritório contábil e o cliente. Com a central de balanços e relatórios do IBPT, as pequenas e médias empresas poderão ter as grandes empresas como referência. “Despertaremos no pequeno empresário o desejo de ter o mesmo profissionalismo, entregando ao contador recursos para que ele ofereça esta degustação ao seu cliente, sem nenhum custo”, finaliza Othon.

Fonte: Revista Dedução

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