Enquanto grandes varejistas já
começaram a contratar pelo trabalho intermitente, formato permitido com a
reforma trabalhista, as pequenas do setor esperam as repercussões do uso da
nova modalidade antes de seguir o mesmo caminho. Responsáveis por boa parte do
trabalho formal, as menores vão priorizar cautela e aguardar os reflexos
jurídicos para só então tomar a decisão.
“As pequenas se sentem inseguras e
querem esperar alguém se aventurar primeiro e dar certo, para depois
implementar”, avalia o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros
Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), Alvaro Furtado. A entidade
reúne 45 mil varejistas, em sua grande maioria de pequeno e médio porte.
Para o dirigente, o fato das grandes
terem tomado a frente serve de estímulo para as empresas menores, mas ainda há
uma insegurança grande em relação ao tema, principalmente por conta da Medida
Provisória (MP), assinada pelo presidente, mas que ainda precisa ser apreciada
pelo Congresso. “Há muita especulação se a MP vai caducar sem ser deliberada
pelos parlamentares”, explica Furtado.
Diante das incertezas que ainda rondam
o assunto, e da capacidade menor das pequenas empresas de lidar com possíveis
problemas jurídicos, ele afirma que nenhuma delas deve adotar as novas modalidades
de contratação no curto prazo. “Todas estão estudando, mas nenhuma das pequenas
e médias vai começar a contratar de imediato”, afirma.
Um dos exemplos é a Cooperativa de
Consumo (Coop), rede de supermercados de médio porte com 31 lojas no Estado São
Paulo. Segundo o presidente da companhia, Márcio do Valle, a empresa tem
interesse em contratar pelo trabalho intermitente, mas vai esperar mais um
pouco antes de dar o primeiro passo. “Não queremos avançar o sinal em algo que
ainda vemos com risco”, diz.
A perspectiva do executivo é que no
meio do ano que vem já haja uma maturidade maior em relação a nova legislação.
Só então, a empresa começará a adotar algumas das mudanças. “Não sei se no
primeiro ou segundo semestre, mas ano que vem já queremos aproveitar as
possibilidades que temos com as novas leis trabalhistas”, afirma o executivo.
O movimento da empresa, e de outros
varejistas com o mesmo perfil, está sujeito, no entanto, a repercussão que a
adoção do trabalho intermitente pelas grandes do setor terá nos próximos meses.
Caso o “experimento” dê certo, e não gere grandes problemas na justiça, a
tendência é que o contrato intermitente se dissemine em todo o comércio, com as
pequenas e médias seguindo o exemplo das grandes, prevê o presidente do Sincovaga.
“Um
sonho antigo”
Entre os gigantes do setor, o Magazine
Luiza foi talvez um dos primeiros a colocar em prática a chamada “jornada
flexível”, que passou a valer há menos de um mês e que, segundo o presidente da
rede, Frederico Trajano, “era um sonho antigo nosso”.
Em entrevista a jornalistas na semana
passada, o executivo afirmou que 1,75 mil vendedores foram contratados pelo
trabalho intermitente para atuar na Black Friday deste ano. A intenção é que a
nova modalidade também seja usado no Natal e na liquidação fantástica (data
promocional interna da rede realizada em janeiro), assim como em outras datas
sazonais do ano que vem. A varejista de material de construção Leroy Merlin
também já realizou algumas admissões pelo contrato intermitente para finais de
semana.
A urgência das duas empresas para
adotar o contrato se dá pelos ganhos significativos esperados. Trajano explica
que o trabalho intermitente deve trazer um ganho expressivo de produtividade
para a rede, uma vez que as 830 lojas da rede terão mais vendedores no momento
de pico, e menos nos dias em que a demanda é fraca. “Vamos ter mais vendas por
unidade de força de trabalho. Vai ter um custo menor e uma melhor
produtividade”, diz Trajano.
Presidente da Sociedade Brasileiro de
Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra estima que o ganho de produtividade com
o trabalho intermitente possa chegar a 30% ou 40%. Ele explica que nos dias de
pouco consumo nas lojas, o varejista vai poder reduzir sua força de trabalho,
diminuindo dessa forma os custos trabalhistas. Já nos dias de alta demanda, a
loja terá mais vendedores atendendo o consumidor, o que, em tese, vai gerar um
aumento nas vendas.
Mesmo entre as grandes, ainda existem
dúvidas em relação as novas leis trabalhistas. O Grupo Pão de Açúcar (GPA),
maior rede de supermercados do País, segue estudando como adotar as novas
modalidades. O presidente da empresa, Ronaldo Iabrudi, disse que está avaliando
implementar a jornada de 12 por 36 horas, mas que ainda olha as mudanças com
“muita cautela e responsabilidade.” “Achamos que essa é uma reforma que vai se
adaptando gradualmente”, explica.
Na jornada, que antes da reforma era
permitida apenas para alguns segmentos específicos, o funcionário trabalha por
12 horas e folga por 36. A ideia do GPA é implantar a modalidade em algumas
unidades, em um projeto piloto, para depois levar para todas as lojas da rede,
dependendo dos resultados.
A Pague Menos, terceira maior rede de
farmácias do Brasil, também está estudando como realizar algumas mudanças com a
nova lei trabalhista. A intenção da empresa é ganhar produtividade e reduzir
custos com a folha de pagamento. “O custo com pessoal é acima de 60% de nossa
estrutura de despesas. Contratamos alguns assessores jurídicos que estão nos
ajudando a desenhar algumas mudanças para ganhar produtividade e reduzir
custos”, afirmou o CFO da companhia, Luiz Novais, em entrevista ao DCI.
Apesar do interesse, e de saber dos
benefícios, a empresa ainda não implementou por temer processos judiciais.
“Estamos bem cautelosos porque alguns juízes não concordam com as medidas.
Mesmo sabendo que a lei já está em vigor, não queremos correr o risco de
receber processos na justiça”, diz.
A mudança que mais interessa a Pague
Menos é o trabalho intermitente, mas Novais afirma que também vê bons ganhos
com a flexibilidade do horário de almoço e a possibilidade de fechar acordos
diretamente com os trabalhadores.
Fonte: DCI – SP
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