Ninguém mais duvida que 2016 será um ano tão ou mais
difícil para o país do que 2015. Começa com discussões sobre o impeachment da
presidente Dilma Rousseff, desemprego, inflação e juros em alta e poder de
compra do consumidor em queda.
Em um cenário tão nebuloso, quais as saídas para
as empresas, considerando que, neste ano, boa parte delas já enxugou tudo o que
podia em suas operações?
Habituado a traçar cenários e a orientar grandes
corporações, e, mais recentemente, também as pequenas, Antônio
Napole, vice presidente da Kaiser Associates, consultoria
americana com escritórios em seis países, diz que, em 2016, as companhias
deverão repensar o negócio a cada mês, em vez de a cada ano, como
costumavam fazer.
“É como se a empresa estivesse vivendo em um período de
guerra, quando o risco de morrer existe a qualquer momento”,
afirma Napole. O empresário deve imaginar sempre qual seria a pior situação
para a empresa, o limite que ela é capaz de suportar.
“Vamos supor que esse limite seria uma queda de
30% nas vendas, num período de dois meses. Se isso acontecer, talvez
seja melhor fechar o negócio do que tentar salvar o que não pode mais ser
salvo”, afirma o vice-presidente da Kaiser.
Corte de custos e renegociações de contratos, as
principais ações das empresas neste ano, devem continuar no centro das atenções
em 2016, de acordo com Napole.
“Será uma boa oportunidade para os empresários reverem
contratos com fornecedores. Uma economia de R$ 100 por mês no aluguel de
bebedouros, por exemplo, se torna uma economia de R$ 1.200 por ano. É hora de
ter este pensamento”, diz.
Veja
a seguir os principais trechos da entrevista:
O
sr. costuma traçar cenários para grandes empresas e estar com elas o tempo
todo. Quais foram as principais ações das empresas para enfrentar a crise?
Reduziram
as operações e o quadro de pessoal para cortar custos, em decorrência da queda
de faturamento. E isso ocorreu em todos os setores, com exceção do agrícola, pois
com a alta do dólar, as exportações de produtos agrícolas foram beneficiadas.
Só
que as importações do setor também ficaram mais caras. O saldo é que as
empresas desse setor conseguiram manter o tamanho da operação. Os clientes do
varejo reduziram em 15%, em média, o faturamento neste ano em comparação com o
ano passado.
Para
2016, quais as recomendações que o sr. tem dado para os clientes?
Elas
devem continuar buscando a redução de custos, a renegociação de contratos de
aluguel, a troca de fornecedores, encontrar maneiras de reduzir o consumo de
energia, água, e envolver todos os funcionários no processo.
Existe
o custo bom e o custo ruim. Se a frota da empresa é relativamente nova, não é
hora de renová-la, até porque isso não traz receita. Agora. comissão de venda é
um custo bom, não deve ser cortado, porque ela ocorre quando a venda
acontece.
As
empresas que não conseguirem suportar maior queda de vendas vão ter de pensar
em vender parte do negócio ou o negócio todo. Agora, quem sobreviver pode
aumentar participação de mercado. A regra de ouro para 2016 é sobreviver e negociar
o máximo possível para manter a operação.
As
grandes companhias devem sofrer menos do que as pequenas e médias empresas
nesta fase de recessão, até porque elas têm mais acesso a crédito?
As
pequenas empresas são mais rápidas e criativas do que as grandes. Quanto mais a
pequena empresa conseguir inovar, cortar custos, melhorar os serviços, dar
crédito, melhor será seu desempenho.
Uma
pequena empresa com mais de cinco anos que já passou por uma crise tem
condições de cortar supérfluos e custos desnecessários mais rapidamente até do
que as grandes. Existe um ditado que diz que custo é como unha. Cresce sempre e
precisa ser cortado.
Além
do corte de custos, que foi uma grande preocupação das empresas neste ano, o
que mais o sr. sugere para elas?
Uma
maneira interessante para melhorar as vendas sem aumentar custos é o marketing
colaborativo.
Exemplo:
Uma empresa que instala máquinas de café com 2 mil clientes e outra que faz
entrega de lanches e frutas nos escritórios também com 2 mil clientes. Se
elas trocarem a lista de clientes, cada uma delas passa a ter 4 mil clientes.
Uma
empresa especializada no comércio de bolsas pode pensar em trocar a carteira de
clientes com uma loja especializada em roupas. Uma escola que só usa o seu
espaço à noite pode pensar em alugar as salas para as empresas que precisam
realizar eventos ou reuniões durante o dia. Isso significa aproveitar as
oportunidades por meio da colaboração.
As
grandes empresas já estão fazendo isso?
A
Souza Cruz e a Ambev compram juntas as linhas de material de limpeza e de
escritório para conseguir descontos maiores das indústrias. O que acontece
é que as pequenas empresas não têm o costume de fazer isso, o que precisa
mudar.
Elas
precisam criar grupos para fazer volumes de compras. A colaboração pode
significar a vida e a falta de colaboração pode significar a morte de muitas
pequenas empresas no ano que vem.
Costuma-se
dizer que uma empresa mostra a sua eficiência quando ela consegue passar bem em
períodos de crise...
Posso
dizer que uma empresa que passa por uma crise ela se torna mais eficiente,
objetiva. É na crise que uma empresa testa a sua capacidade de ser gestora de
um negócio. Não se aprende a gerenciar uma empresa quando tudo vai bem, mas,
sim, quando é preciso fazer cortes, reduzir custos, selecionar investimentos.
A
Endeavor fez uma pesquisa e descobriu que de 4 milhões de empresas, 32,5%
conseguem crescer independentemente do momento econômico. Identificou ainda que
os empresários mais bem-sucedidos são os que acumulam experiências, com cerca
de 40 anos, e que já quebraram três vezes. Passar por uma crise, quebrar,
e voltar a investir de novo e ter sucesso parece uma constante.
Agora
é o momento de tudo ou nada. É preciso ter disciplina na execução do plano de
negócios. Se a empresa erra em um planejamento ou perde um processo
trabalhista, ela quebra.
O
que muda para as empresas em um cenário com processo de impeachment no primeiro
semestre?
Tanto
faz se a presidente Dilma sai ou não. O cenário para o ano que vem é ruim de
qualquer forma porque o problema da economia brasileira tem a ver com a questão
fiscal. Por maior que seja a confiança em alguém que assume o país, é
preciso fazer ajustes na economia, e todo mundo terá de pagar a conta.
O
que poderia inverter essa falta de confiança na economia?
Seria
bom para as empresas se o processo da Lava Jato andasse mais rápido. O que está
atrasando o país são as pessoas que se beneficiam da corrupção em todos os
níveis do país.
Seria
bom que as pessoas desonestas fossem pegas o quanto antes, e não aos poucos. O
país precisa de uma limpeza para poder melhorar depois.
Fonte: Diário do Comércio
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