Com
o desarranjo fiscal do governo da presidente Dilma Rousseff, a tendência é de o
quadro piorar se não houver controle nas contas públicas. O baixo crescimento
da economia, que impede o aumento da arrecadação, e a elevação das taxas de juros,
que pesam sobre a dívida pública e pressionam os gastos do governo, dificultam
uma rápida recuperação da economia. Para especialistas, a nova equipe
econômica, liderada pelo engenheiro Joaquim Levy no comando do Ministério da
Fazenda, terá bastante trabalho para entregar um superávit primário de 1,2% do
PIB, ou algo próximo de R$ 66,3 bilhões.
“É
difícil não haver carregamento da alta da Selic agora e no ano que vem. A
economia, com pouco crescimento, é ruim para a receita do governo. A dívida
líquida está em expansão, com juros mais elevados e com mais gastos
vinculados”, explica o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.
“Levy não terá muito espaço para cortar gastos", acrescenta Velho. Ele
lembra que, quando Levy era secretário do Tesouro Nacional, em 2003, a situação
também era ruim. “Ele vai demorar mais tempo para entregar um superávit de
1,2%, mas isso vai depender muito das condições do país nos próximos meses. Ele
precisará criar condições para aumentar a receita, como ressuscitar a CPMF e a
Cide”, avalia.
A
economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galanto/MBB,
também considera que as maldades que deverão ser feitas pelas mãos de Levy
serão as de sempre. “Os cortes de gastos são limitados e, inevitavelmente, vai
ter que ter aumento de imposto. As desonerações que vão vencer não serão
renovadas e existe uma chance muito grande de a nova equipe econômica ser
obrigada a reverter a desoneração permanente da folha de pagamentos”, aposta.
Para
a economista, pelo seu perfil, Levy não aceitaria assumir o cargo se não
tivesse carta branca para fazer o que será preciso para rearranjar as contas
públicas. “Acredito que ele conseguirá entregar um superávit primário de 1,2%,
mas ele terá de mexer na receita e reeditar contribuições, como a CPMF e a Cide
e tudo aquilo que não precisará passar pelo Congresso. Não tem mágica",
destaca ela, lembrando que a projeção de expansão de apenas 0,8% do PIB em 2015
sinaliza que não haverá receita suficiente para os gastos que estarão travados
com o Orçamento Impositivo.
Rombo
O
economista Paulo Rabelo de Castro, coordenador do Movimento Brasil Eficiente,
estima que o déficit primário deste ano, sem a contabilidade criativa do atual
governo, deverá ser de R$ 50 bilhões a R$ 100 bilhões, por conta do novo aporte
de R$ 30 bilhões para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Pelas contas do economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, o
déficit fiscal deste ano deverá ser de R$ 30,9 bilhões, ou 0,6% do PIB, e, no
ano passado, o resultado primário foi de apenas 0,6%, com exclusão das receitas
extraordinárias como concessão do pré-sal, dividendos e adesão ao Refis, que
entraram na conta para que o governo cumprisse a meta de 1,9% do PIB. A seu ver
a tarefa de Levy não será fácil. “Para sairmos de um primário negativo e
chegarmos num superávit de 1,2% do PIB, deveria ocorrer uma economia de mais de
R$ 90 bilhões entre 2014 e 2015”, explica.
Fonte:
Estado de Minas
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