Contadores
que buscaram fechar a folha de pagamento no eSocial nos últimos dias foram
surpreendidos por uma série de instabilidades e não conseguiram cumprir a
obrigatoriedade dentro do prazo estabelecido pelo Governo.
Os
primeiros relatos de problemas no sistema foram divulgados na quarta-feira
(06), véspera do prazo final para o envio das respectivas informações, e
trouxeram preocupação aos profissionais envolvidos.
As
primeiras suspeitas apontavam um congestionamento no portal, uma vez que este é
o primeiro mês em que as empresas do grupo 2 enviam os dados da folha de
pagamento pelo eSocial, prática presente na rotina das empresas do grupo 1
desde maio de 2018.
Porém,
segundo o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa de
tecnologia responsável pelo eSocial, os erros não foram causados pela alta
demanda de acesso, e sim por uma instabilidade que atingiu também outras
aplicações do Governo Federal.
Independente
das causas, o fato é que a instabilidade impossibilitou que muitas empresas
realizassem o procedimento dentro do prazo. Desta forma, surgem inúmeras
dúvidas: o que virá a acontecer? As empresas serão financeiramente punidas?
Como devem proceder agora?
Empresas não devem ser
multadas
Em
nota, o Comitê Gestor do eSocial disse que “orientará os órgãos fiscalizadores
quanto à não aplicação de penalidades”, uma vez que o “eventual descumprimento
dos prazos das obrigações acessórias […] ocorreu por questões técnicas,
inerentes às dificuldades de implantação.”
Segundo
Jení Carla Fritzke Schülter, consultora em eSocial, articulista do Portal
Contabilidade na TV e membro do GT Confederativo do eSocial, a medida já era
esperada para as empresas do Grupo 2. “Esta fase é mais tranquila, porque o
eSocial ainda não é tido como a entrega oficial”, explica. “Os três primeiros
meses são de adaptação, e a entrega oficial para o Governo continua sendo a
Sefip”.
A
especialista comentou também que um adiamento do prazo, requerido por muitas
empresas do respectivo grupo, “não faz sentido”. “Nestes meses de adaptação, o
eSocial caminha paralelo às obrigações oficiais e não as substitui”,
complementa. “Isso só acontece na quarta fase, e não agora. Logo, não há motivo
para punir as empresas desse grupo pelo descumprimento do prazo”.
Por
outro lado, as empresas do Grupo 1 já são obrigadas a realizar o envio das
informações da folha via eSocial. Apesar disso, a nota esclarece que as mesmas
também não deverão ser punidas pelo atraso.
“Na
nota, o Comitê destaca que ‘o vencimento da DCTFWeb é no dia 15’, de modo que
restam alguns dias para as empresas realizarem o procedimento”, explica Jení.
“Enquanto o FGTS não for integrado, o prazo estipulado para o sétimo dia do mês
não tem muito sentido”.
Segundo
ela, manter a calma é fundamental para o momento: “Precisamos ficar tranquilos
e entender que não foi um erro das empresas contábeis ou empresas de sistemas.
Ainda temos tempo para corrigir os problemas”.
Representantes das
empresas contábeis agiram rapidamente
Problemas
estruturais fazem parte do eSocial desde os primórdios do sistema, conforme
destaca Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente da Fenacon (Federação
Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento,
Perícias, Informações e Pesquisas).
“Essa
questão de problema na entrega não é uma questão nova”, argumenta. “Desde o
início do projeto, em diversos momentos nós manifestamos preocupação quanto a
infraestrutura das bases do Governo para entrega desses produtos. O movimento é
extremamente maior do que tudo que vimos até então”.
Segundo
ele, a Fenacon estabeleceu contato com os responsáveis pelo eSocial logo após
as primeiras manifestações de instabilidades, registradas na quarta-feira (06)
– e já cogitava pedir um adiamento do prazo em caso de multas às empresas do
grupo 1.
“Por
ora, sugerimos que os contadores lesados pela instabilidade guardem as telas de
envio, de modo que possam comprovar a tentativa do envio”, orienta Approbato.
Instabilidade trouxe
transtornos às empresas de software
Não
só contadores acabaram afetados pelos erros, mas também as empresas de
software, que acabaram tendo seus suportes extremamente congestionados.
“Tivemos
um recorde de atendimento, com cerca de trezentos clientes sendo atendidos
simultaneamente”, comenta Elinton Marçal, diretor de tecnologia da SCI Sistemas
Contábeis. “Procuramos ajudar como era possível, mas os erros em questão não
eram no nosso sistema, e sim no próprio eSocial. Mas infelizmente nem todos
compreendiam isso”.
Segundo
ele, muitos investimentos foram realizados na empresa em decorrência do
eSocial: tudo para atender a demanda esperada.
“Nós
triplicamos a nossa equipe e investimos em novas ferramentas de atendimento”,
enaltece. “Isso acabou ajudando em todo processo. Ainda assim houve desgaste,
mas atendemos praticamente todos que tentaram auxílio. O fato é que o ambiente
do governo contribuiu bastante para atrapalhar, parando por horas e ‘pipocando’
quando funcionava”.
A culpa não é somente do
Governo
O
alto número de suportes abertos nas empresas de software ilustra uma
importantíssima realidade quanto à implantação do eSocial: o despreparo de
alguns profissionais contábeis. Segundo Marçal, os mais desesperados que
procuraram ajuda mostravam um baixíssimo nível de conhecimento sobre a nova
obrigação.
“Uma
parcela de usuários não investiu em treinamento adequado”, comenta. “Quem está
estudando o eSocial há tempo sabe lidar melhor com a situação. Quem cai de
paraquedas procura alguém para culpar e torna a relação mais difícil. Temos
mais de 10 mil clientes, e sempre tem a turma de descontentes que não consegue
entender o processo, mesmo com todas as explicações e cursos que ofertamos.
Falta preparo.”
Jení
é enfática ao seguir a mesma linha de raciocínio: para ela, o despreparo foi
fundamental para aqueles que não conseguiram enviar as informações dentro do
prazo estipulado.
“A
maioria dos clientes que entregou, o fez tranquilamente”, justifica. “Alguns
apresentaram questões pontuais para fechar. Outros, porém, não sabiam nem como
começar. O fato é: quem se preparou durante os últimos meses possivelmente
conseguiu entregar, salvo enganos. Já quem não fazia ideia do funcionamento do
sistema, encontrou muita dificuldade e certamente está frustrado”.
Por
fim, Jení acredita que muitos dos que não obtiveram sucesso se espelharam em
quem reclamava dos erros. “Muita gente foi na onda, viram que os outros não
conseguiam e usaram a mesma desculpa”, crê. “O fato é que o despreparo foi
determinante. Quem quis ser ajudado, conseguiu, seja através de cursos ou até
mesmo de nossa mentoria“.
Fonte:
Contabilidade na TV
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