Com
problemas no orçamento, governos estaduais aumentam o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços; elevação nas alíquotas é repassada para o
consumidor, puxando preços
São
Paulo - A cidade de Curitiba teve alta nos preços de 12,58% em 2015, o maior
índice registrado em todo o País. O aumento foi puxado pela elevação da
alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que
também vai subir em outros estados.
Irene
Maria Machado, gerente de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), afirma que o crescimento do ICMS em Curitiba "teve
impacto sobre o preço de mais de 95 mil itens de diversos grupos, como higiene,
remédios e alimentação", o que colaborou para a alta no Índice de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015. Ela lembra que outras cidades, "como
Porto Alegre, São Paulo e Brasília", também poderão ser afetadas pelo
aumento do imposto em 2016.
Professor
de economia da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP), Luiz Alberto Machado
diz que a alta do ICMS acontece porque "estados e municípios têm problemas
graves de orçamento, não conseguem aumentar a captação de recursos com o
governo federal e então acabam elevando os impostos". Já o professor
Victor Gomes, da Universidade de Brasília (UNB), explica que "os aumentos
na carga tributária são repassados para o consumidor, afetando a inflação"
e aponta que a elevação das alíquotas em outros estados "devem causar
novos choques sobre os preços no decorrer deste ano".
Em
dezembro, o IPCA marcou alta de 0,96% no País. Com o aumento, o acumulado em
todo o ano passado chegou a 10,67%, a maior taxa anual desde 2002, quando a
inflação alcançou os 12,53%. Em 2014, o índice ficou em 6,41%.
Além
de Curitiba, Fortaleza (11,43%), Porto Alegre (11,22%), São Paulo (11,11%) e
Goiânia (11,10%), Rio de Janeiro (10,52%) e Recife (10,15%) também tiveram
índices acima dos dois dígitos. Na separação por grupos, habitação (18,31%),
puxada pelos aumentos na energia elétrica, e alimentação e bebidas (12,03%)
tiveram os resultados mais elevados de 2015.
Novas alíquotas
Seguindo
o mesmo caminho do governo paranaense, que elevou a alíquota do ICMS em 50% no
primeiro semestre do ano passado, outros estados também estão apostando no
aumento do imposto.
No
Rio Grande do Sul, a alíquota básica do tributo foi elevada de 17% para 18%,
enquanto as alíquotas sobre energia elétrica, álcool, gasolina e telefonia fixa
passaram de 25% para 30%. As mudanças entraram em vigor no começo deste mês.
Também
houve alta no Distrito Federal: o ICMS sobre o combustível passou de 25% para
28% e o imposto sobre o diesel pulou de 12% para 15%.
Em
São Paulo, o governador Geraldo Alckmin sancionou no final de novembro o
aumento das alíquotas que incidem sobre bebidas alcoólicas (de 18% para 20%) e
sobre o cigarro (de 25% para 30%).
Acima do teto
A
alta dos preços para o grupo de transportes (10,16%), a terceira maior
registrada durante o ano passado, também deve aparecer entre as principais de
2016. "O aumento das passagens de metrô, trem e ônibus que acontece em
algumas partes do País deve pesar já no começo deste ano", lembra Irene.
Machado
menciona outros fatores que podem intensificar a alta dos preços neste ano,
como a elevação do câmbio e o agravamento do quadro político, "o que
aumentaria a instabilidade no País de forma geral". Entretanto, o
especialista estima que o IPCA deve terminar 2016 mais perto do teto da meta,
"entre 6,5% e 7%".
Já
Antônio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da Fundação Getulio
Vargas (FGV), acredita que a inflação tende a cair um pouco no começo deste ano
"porque a recessão está muito forte", mas afirma que nova alta pode
acontecer no segundo semestre, "principalmente se o Banco Central for
leniente com a alta dos preços".
Outro
fator que pode elevar a inflação neste ano é o aumento do salário mínimo.
"Os empresários terão que repassar o custo para os preços finais",
comenta Gomes. O economista também afirma que o pagamento das pedaladas
fiscais, realizado no final do ano passado, "ampliou a emissão monetária e
também pode ter impacto sobre os preços".
Segundo
o professor da UNB, a inflação deve encerrar 2016 perto dos 8%.
Fonte: Fenacon
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