Não
acontece mais somente após as datas tradicionais de vendas do comércio ou da
Black Friday: as liquidações são cada vez mais comuns no varejo para promover
uma limpa nos estoques e gerar caixa para os comerciantes.
A
concessão de descontos de 50%, 60%, 70% ou mais em produtos para atrair
clientela pode parecer uma chance e tanto de ganhar escala e fazer caixa: uma
pesquisa do buscador de preços Zoom mostra que o preço é segundo critério que
mais direciona o consumidor para uma loja virtual na hora de fazer compras na
web.
De
30 mil entrevistados, 37% disseram escolher a loja com o menor preço. Em 2013,
essa era a preocupação de apenas 19%.
O
preço ganhou relevância na decisão do consumidor nessa crise, mas o primeiro
critério para escolher uma loja - pelo menos na internet - continua sendo o
atendimento diferenciado, de acordo com o levantamento do Zoom.
Dos
entrevistados, 39% disseram priorizar as lojas que proporcionaram uma boa
experiência de compra, algo que pode ser usado como uma estratégia pelo pequeno
empreendedor para não ser engolido pela guerra de preços.
Aumentar
as vendas por meio de descontos pode ser uma armadilha para o caixa da empresa
e até levá-la à falência.
A
clássica guerra de preços que grandes empresas promovem, às vezes com o intuito
de ganhar participação de mercado ao quebrar concorrentes, é estratégia para
cachorro grande mesmo.
Não
é batalha para pequena empresa, definitivamente. "É somente para quem tem
um caixa muito forte e um planejamento financeiro bem elaborado para muitos
anos à frente, o que não é o caso da maioria das pequenas empresas, que ainda
enfrentam problemas com capital de giro", afirma Adriano Correa, sócio de
advisory da BDO.
Veja
cinco recomendações de especialistas para fazer uma boa política de descontos em
liquidações sem entrar em uma guerra de preços nociva para a empresa:
1 – Conheça sua estrutura
de preços
O
preço deriva não só do custo que o comerciante teve com a compra do produto que
vai revender, mas também da estrutura de custos da empresa. Nesse quesito, não
tem jeito: cada um tem uma realidade diferente e precisará conhecer isso para
poder calcular o preço.
Fazer
o cálculo correto é o primeiro passo para formar um preço e diminuí-lo depois,
de forma que não cause danos ao caixa.
Então,
não se trata apenas de multiplicar o valor pelo qual pagou pelo produto por
dois ou por três.
Ao
valor de aquisição do produto, o comerciante deve embutir as despesas médias
com aluguel, água, luz, telefone, internet, salários de funcionários, custos
com a maquininha de cartão e impostos.
Depois,
deve acrescentar a margem de lucro, que pode chegar a até 30% (uma média
superior quando não há concorrentes próximos e potenciais). Ao conceder os
descontos, retire um pedaço dessa margem.
"Considerando
tudo isso, o comerciante pode diminuir a margem de lucro. De 20% por exemplo,
para 10% ou 5%, dependendo do produto", afirma Ciomalia Medeiros,
consultora do Sebrae-SP.
É
importante entender a malha tributária para embutir nos preços de determinados
produtos impostos como ICMS e ISS, entre outros, além das regras de
substituição tributária, segundo Patricia Cotti, coordenadora acadêmica da
Academia de Varejo do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e
Mercado de Consumo).
Ao
levar em consideração esses elementos, de acordo com a tributação, cada produto
terá precificação diferente.
"A
contabilidade geralmente cuida disso para a pequena empresa, mas é importante
que o comerciante entenda minimamente o assunto para não correr o risco de que
a margem de lucro do produto que vai vender em uma liquidação não acabe sendo
usada apenas para o pagamento de impostos", diz Patricia.
Conhecendo
a real margem de lucro e quanto é gasto com impostos, o pequeno comerciante tem
informações sobre o quanto realmente precisa pedir em desconto para os
fornecedores.
Muitas
vezes são indústrias grandes, mas também estão em crise. Então esse
compartilhamento de informações pode gerar um ganha-ganha, na opinião da coordenadora.
2 – Escolha os produtos
que podem ter desconto
Ao
estabelecer o preço com base na própria estrutura de custos, será preciso
escolher os produtos que podem ser vendidos com descontos e estabelecer o preço
mínimo ao qual o vendedor pode chegar.
Será
preciso estudar o histórico de vendas para descobrir quais produtos são os
carros-chefes do negócio, ou seja, os mais lucrativos, e descobrir quais são os
chamarizes, que são aqueles que levam à venda de outros produtos.
A
regra enuncia que não se pode dar um desconto maior no preço de um produto
carro-chefe, a ponto de que não gere margem de lucro.
É
preciso escolher os produtos com os quais se pode trabalhar com uma margem
mínima ou com nenhuma margem de lucro, como é o caso de produtos que chamam
para a compra de outros.
"Até
é possível perder margem em dois ou três produtos para ganhar em outros, mas
desde que isso seja feito com critério e conhecimento. O que não dá é trabalhar
sem noção do resultado que isso vai gerar no curto, médio e longo prazos no
caixa", diz Patrícia, da Academia do Varejo.
Na
padaria, por exemplo, o produto vendido sem margem de lucro é pãozinho, que
leva o consumidor a comprar frios e outros itens. Na perfumaria, o esmalte
estimula a venda de outros produtos.
Na
loja de roupa é o acessório (lenço, cinto e outros) com preço menor, que leva à
compra de outra peça, de acordo com exemplos citados por Ciomalia, do
Sebrae-SP. O segredo é expor esses produtos de forma que o consumidor percorra
toda a loja.
Será
preciso montar uma tabela de preços mínimos que os vendedores podem praticar,
de acordo com o mix de produtos. "É ter isso no papel para dizer ao
vendedor: olha, você pode dar desconto até aqui. É saber exatamente o limite no
qual o preço gera lucro ou prejuízo", afirma Correa, da BDO.
3 – Reveja o estoque e
acabe com o que está encalhado, mesmo que tenha prejuízo
Quem
faz o adequado cálculo de preços dos produtos que vende e passa a entender o
mix de produto para determinar descontos de forma estratégica, acaba
descobrindo quais são os produtos encalhados em estoque.
Especialistas
dizem que esses produtos devem ser liquidados, mesmo que gerem prejuízos para o
caixa. Afinal, é melhor fazer dinheiro com o que tem do que pedir no banco,
avalia Ciomalia, do Sebrae-SP.
Se
o produto não gira há mais de seis meses é ótimo candidato para a liquidação,
ao preço mínimo. Se ficou todo esse tempo na prateleira, o preço está errado,
de acordo com Correa, da BDO.
Segundo
o especialista é um bom momento para rever o tempo médio de produtos em estoque
e até descontinuar a venda daqueles que ficam encalhados. Muitas vezes o item
pode parecer um bom candidato a vendas, mas em lojas maiores e com mais
unidades, o que não é o caso do pequeno empresário. "Então, fique apenas com
os produtos rentáveis", afirma.
4 – Pesquise seus
concorrentes
Além
de conhecer a estrutura de custos para formar preços e a demanda e giro de
produtos, o comerciante precisa ter informações sobre os concorrentes e o que
estão fazendo.
Parece
óbvio, já que muitos lojistas formam o preço de acordo com a concorrência, o
que é perigoso. Mas também inevitável: um produto vale o que outra pessoa está
disposta a receber para vender e quanto outra está disposta a pagar.
Busque
informações sobre o concorrente e tente descobrir porque ele consegue fazer um
preço três ou quatro vezes menor. Se você está seguindo sua estrutura de
custos, veja o que o outro está fazendo de diferente.
"Às
vezes, ele paga menos pelo ponto comercial, tem um melhor relacionamento com o
fornecedor, faz compra em escala ou mesmo está desesperado para liquidar o
estoque", diz Correa.
Se
descobrir que o concorrente está quebrando, cuidado com a empolgação: é preciso
ter planejamento de caixa para os próximos anos e aguentar ficar sem lucro até
ganhar participação de mercado. Quem toma prejuízo de propósito para quebrar o
concorrente corre o risco de falir junto. "Isso é irracional para os
pequenos. É negócio de cachorro grande."
Se
a estrutura de custos do concorrente for parecida, é preciso observar se a
política de vendas é mais agressiva, ou mesmo tentar descobrir se ele está
sonegando impostos. Nesse caso, não dá para competir. É melhor rever se faz
sentido competir vendendo o mesmo produto.
5 – Busque uma alternativa
à guerra de preços
Quem
não quer deixar de vender um produto porque não consegue reduzir os preços -sob
a ameaça de quebrar o caixa- pode lançar mão de outras práticas, como melhorar
o atendimento ao cliente, a entrega do produto e a garantia.
Terá
de criar diferenciais, que podem ser no relacionamento, no suporte pós-vendas
de forma a sair do jogo da commoditização do produto que vende.
A
tendência é pensar que num momento de crise no varejo, abaixar o preço e fazer
promoção é a melhor escolha, já que o consumidor procura isso.
Sucede
que se isso for feito repetidas vezes, reforça esse racional na cabeça do
consumidor, que não aceitará pagar o preço normal, o que é prejudicial, segundo
Patricia, da Academia do Varejo.
Em
vez de dar fortes descontos, ela sugere investir no lado emocional do
consumidor, proporcionando diferenciais na experiência de compra, deixando a
promoção apenas como algo a mais.
O
pequeno empresário tem facilidade de fazer isso acontecer, porque tem
flexibilidade e pode usar as ferramentas online e também as mídias sociais.
Em
resumo, guerra de preços não é saudável e, muitas vezes, pode ser fatal para a
empresa que reduzir demais o valor dos produtos mais vendidos.
"A
empresa grande tem capital de giro para aguentar, mas o pequeno não. Se entra
nesse jogo, também se prejudica e ninguém ganha", afirma Ciomália.
Fonte:
Diário do Comércio – SP
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