Especialistas
acreditam que o Brasil não precisará se adaptar às novas regras fiscais dos
países desenvolvidos porque já possui um cruzamento avançado de informações
tributárias no setor privado.
Até
dezembro, os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) - o qual reúne os países mais industrializados e também alguns
emergentes como México, Chile e Turquia - deverão estar adaptados ao Plano de
Ação do Base Erosion and Profit Shifting (BEPS).
As
medidas a serem adotadas visam impedir multinacionais de buscar países com
impostos mais baixos para lançarem seus lucros (tributação), mesmo que boa
parte desse ganho tenha sido conquistada em outro país. Isso porque essa
prática - que é legal - estava reduzindo a receita desses países em meio à
crise financeira internacional iniciada em 2008.
Contudo,
atualmente, empresários e mesmo especialistas têm dúvidas se essa mudança não
será imposta às demais nações, que possuem filiais das multinacionais desses
países "ricos".
Para
Marcelo Lira, sócio da área de tributação internacional da EY, no caso do
Brasil isso não será um problema. "A União Europeia está tentando colocar
mecanismos para viabilizar a troca de informações tributárias das empresas. Mas
isso já acontece no Brasil com o Sped [Sistema Público de Escrituração Digital]
entre os estados", disse ao DCI, durante o 7º Seminário Internacional de
Impostos da consultoria, realizado ontem, em São Paulo.
Segundo
Lira, o governo brasileiro, os estados e as empresas, principalmente as
grandes, vêm investindo desde 2009 para se adaptar ao universo do Sped, onde é
possível o cruzamento de dados das companhias que estão dentro desse sistema,
com nota fiscal eletrônica, por exemplo. "No âmbito federal, com o ECF
[Escrituração Contábil Fiscal, no qual as informações contábeis são lançadas no
sistema virtual e não mais em papel], o fisco tem essa visibilidade também do
que acontece no âmbito internacional", acrescentou o sócio de área
tributária da EY.
A
maioria das obrigações do Sped é exigida para os optantes do lucro real -
grandes companhias. Contudo, no curto prazo os negócios de menor porte também
deverão se preocupar em se adaptar às novas forma de declarar dados
trabalhistas ao fisco e aos órgãos competentes, por meio do chamado eSocial.
Mais informações
O
sócio da área de Global Compliance & Reporting (GCR) da EY, Fábio Ota
comenta que não somente pelo Sped tem esse cruzamento de informações que coloca
o Brasil em patamar mais avançado do que países que precisam se adequar ao
BEPS. "Com o Siscoserv isso também será possível, uma participação maior
no controle externo", disse o especialista, no evento.
Conforme
o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o
Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações
que Produzam Variações no Patrimônio, ou Siscoserv, é uma ferramenta
informatizada, criada para o aprimoramento das ações de estímulo, formulação,
acompanhamento e aferição das políticas públicas relacionadas a serviços e
intangíveis bem como para a orientação de estratégias empresariais de comércio
exterior.
Por
outro lado, o sócio da GCR entende que a adequação às normas da ECF já fizeram
com que o número de horas trabalhadas para atender as obrigações do fisco de
forma geral deve se manter maior que a média (2.600 por ano, o pior resultado
do mundo). E que isso não deve cair no curto ou médio prazo. "Até que no
longo prazo o cenário hipotético se concretize, como o próprio fisco enviar as
informações da sua empresa para você e só pedir uma confirmação, não acredito
em redução do tempo gasto para atender às normas da Receita", alerta o
especialista, ao lembrar que o processo de fiscalização, mesmo assim, hoje é
intenso.
Fonte:
DCI - SP
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