A
publicação da versão definitiva do manual de orientação do eSocial, em
fevereiro, deixou mais claro para as empresas o impacto que elas terão a partir
da adoção da plataforma. A estimativa é de que as grandes companhias, com
faturamento anual superior a R$ 78 milhões, comecem a operar sob o novo modelo
a partir de abril de 2016. Já as demais organizações deverão integrar o sistema
a contar de setembro de 2016. Nesse sentido, um estudo da
PricewaterhouseCoopers (PwC) detecta que mudar a rotina vigente nas organizações
hoje será o principal desafio.
Segundo
o levantamento, 30% das empresas pesquisadas apontaram a mudança cultural como
o tema em que haverá mais dificuldade de se lidar na implantação do eSocial. Na
sequência, aparecem os processos internos (29%) e sistema e tecnologia (16%).
"Uma parcela das empresas acredita que somente colocar um software de
folha de pagamento resolve. Isso é preocupante, pois uma mudança cultural não
passa apenas por aí. Essa é uma visão simplista", destaca Fernando
Giacobbo, sócio da PwC Brasil.
A
adaptação ao novo modelo passa pela centralização das informações a serem
repassadas ao fisco. O gerente sênior da PwC Brasil Giancarlo Chiapinotto
lembra que dados que estão sob a tutela de diferentes departamentos terão de
ser encaminhados à área de recursos humanos (RH). "Será necessário alterar
procedimentos, arrecadando informações que não estão no guarda-chuva do
RH", afirma.
Um
exemplo está na área de segurança e saúde do trabalho. Se, em uma indústria, um
funcionário passa da área administrativa para a linha de produção, isso terá de
ser informado ao RH para que seja feita a comunicação via eSocial. Essa é uma
prática que pouco ocorre no momento.
A
integração de dados é vista como a principal dificuldade para 41% das organizações,
superando obstáculos como o pouco entendimento dos gestores à legislação (22%)
e a complexidade das leis atuais (14%). Além disso, 37% dos entrevistados
preveem dificuldades para cumprir todas as obrigações dentro do cronograma
estipulado. Ainda assim, há consciência de que a medida trará ganhos. Para 39%,
haverá melhoria no cumprimento da legislação, e 27% acreditam em maior
eficiência nos processos.
Giacobbo
enfatiza que o eSocial vem para ficar e não deve sofrer novas alterações de
prazos para entrar em vigor. Assim, as empresas precisam iniciar sua
preparação. A primeira etapa consiste em realizar um diagnóstico do panorama
existente. "É importante saber qual será o grau de dificuldade que o
eSocial exigirá. É fundamental que a alta administração saiba a relevância
desse projeto e busque o comprometimento de todas as áreas da empresa",
aponta.
O
manual de orientação classifica as informações a serem repassadas em três
grupos. Nos eventos iniciais e tabelas, deverão constar as informações de natureza
permanente, como tabela de rubricas, cargos, horários e vínculos empregatícios
atuais. Nos eventos não periódicos, será necessário registrar ações como
admissão, alteração contratual, afastamentos e reintegrações. Já nos eventos
periódicos, incluem-se dados de remuneração dos trabalhadores e informações
tributárias, trabalhistas e previdenciárias.
O
sócio da PwC Brasil recomenda que as companhias façam um pente-fino nos seus
processos, já que muitas delas não possuem registros digitalizados. Uma dica,
segundo o Giacobbo, é ficar atento às rubricas, já que em muitos casos as
empresas possuem um volume até cinco vezes superior ao que o eSocial permitirá.
RH é a área mais impactada
Responsável
por organizar as informações a serem repassadas ao fisco, o departamento de
recursos humanos (RH) é o mais afetado pela implantação do eSocial. Na pesquisa
realizada pela PwC, 41% dos entrevistados apontam essa área como a que mais
demandará cuidados. Em seguida, aparecem segurança e saúde do trabalho (16%) e
tecnologia da informação (11%). Por outro lado, o jurídico (3%) deve ser a
menos demandada.
O
vice-presidente de relações do trabalho da Associação Brasileira de Recursos
Humanos no Estado (ABRH-RS), Marco Antônio de Lima, define que a publicação do
manual não atenuou o nível de atenção quanto ao preparo das empresas. "Há
uma preocupação grande em relação à burocracia para a implementação. E não há
alento do governo para facilitar esse processo", analisa. "A mudança
de cultura exigida é tão grande que qualquer prazo para adaptação parece
curto", complementa.
Lima
constata que os gestores de RH têm conseguido respaldo dentro das companhias
para conduzir as mudanças necessárias. No entanto, o gestor critica algumas
situações que o eSocial demandará, caso de algumas flexibilidades que o sistema
atual permite e serão excluídas. "Quando há regras inflexíveis, isso
dificulta qualquer organização, mesmo aquelas que têm boa intenção em
compatibilizar os interesses da empresa e dos seus trabalhadores",
menciona. Lima cita como exemplo o fim do parcelamento das férias dos
funcionários, algo recorrente hoje e que não deve mais ser tolerado.
A
gerente de produto de folha de pagamento da ADP, Ângela Rachid, lembra que,
após a divulgação do manual, ficou claro que o eSocial, em um primeiro momento,
ficará concentrado nas partes de folha de pagamento e segurança e medicina do
trabalho. "A área fiscal receberá mais atenção em um segundo momento, mas
isso só será oficial quando o cronograma for decretado, entre o final do mês e
início de maio", salienta.
A
partir daí, os primeiros testes do sistema com grandes empresas devem começar
em agosto, ressalta Ângela, que integra o grupo de trabalho composto pelo
governo federal para tratar da adoção da plataforma.
Qualidade das informações
será alvo de fiscalização
O
eSocial só deve entrar em vigor em 2016, mas isso não quer dizer que o fisco já
não esteja atento à eventuais falhas nas informações que as empresas fornecem.
O CEO da TaxWeb, Evandro Ávila, ressalta que, desde 2008, quando o Sistema
Público de Escrituração Digital (Sped) entrou em vigor, a Receita Federal vem
intensificando o controle. Desde então, a arrecadação anual com autuações
cresceu de R$ 90 bilhões para R$ 190 bilhões, apresentando queda apenas no ano
passado.
Para
2015, o ano de preparação para o eSocial, há 46 mil indícios de
irregularidades. "Até agora, muitas empresas estavam preocupadas em enviar
informações, mas pouco atentas à qualidade da informação repassada. O eSocial
será a última fronteira do Sped no Brasil", destaca Ávila.
Segundo
o CEO da TaxWeb, as empresas vão precisar tomar cuidados para gerir as
informações em tempo hábil para enviá-las. "É preciso alterar os fluxos de
trabalho dentro das companhias, criando novos procedimentos", aponta. O
dirigente reforça que a maior parte das exigências do eSocial virão dos dados
sobre a folha de pagamentos das companhias.
Jornal
do Comércio – RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário