Ao
mesmo tempo que avança a tramitação de medidas provisórias do chamado ajuste
fiscal do governo, cresce a pressão sobre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
para apoiar projeto de regulamentação do imposto sobre grandes fortunas,
previsto na Constituição.
A
mais recente investida a favor da regulamentação da matéria partiu do deputado
federal Glauber Braga (PSB-RJ). Na próxima semana, ele promete obstruir a
votação da Medida Provisória 665, que restringe acesso a direitos
previdenciários e trabalhistas.
Na
segunda-feira (16), o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, ingressou
com Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal devido a
omissão do Congresso na apreciação do tema.
Por
meio de uma liminar, Dino pede ao STF a fixação do prazo de 180 dias para o
Congresso regulamentar o imposto. Caso contrário, a Corte se tornaria a
responsável por apontar quais regras deveriam ser aplicadas a partir de 2016.
Anteontem,
Braga defendeu a obstrução do debate na comissão mista se o Ministério da
Fazenda não regulamentar o imposto sobre grandes fortunas.
Ao
DCI, o parlamentar afirmou que é necessária uma sinalização concreta do
ministro da Fazenda e do governo para estabelecer um cronograma de discussão da
proposta com a definição de prazos para votação.
Afirmou
que há estudos feitos pela Câmara de que essa taxação renderia ao governo entre
R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões por ano, na pior das hipóteses, e até R$ 100
bilhões, no melhor dos cenários.
"Se
não houver um indicativo nesse sentido, nós vamos continuar um processo de
obstrução forte, como já se iniciou hoje, na próxima reunião da comissão",
afirmou.
Segundo
o parlamentar, nada justifica que o arrocho fiscal recai sobre as costas dos
trabalhadores e do setor produtivos, alvos preferenciais das medidas
provisórias e de um projeto de lei com urgência constitucional editados pela
presidente Dilma. A disposição do deputado vai encontrar resistência na
comissão mista, presidida pelo deputado Zé Geraldo (PT-PA) e pelo senador Paulo
Rocha (PT-PA).
Geraldo
adiou para a próxima quarta-feira (29) a votação do relatório sobre a MP, que
limita a requisição do seguro-desemprego pela primeira vez pelo trabalhador
dispensado sem justa causa.
Marcada
para anteontem, a reunião da comissão mista que analisa o texto não ocorreu por
falta de quórum.
Conforme
o relator, o adiamento ocorreu em razão de tramitarem, ao mesmo tempo, duas
propostas envolvendo trabalhadores e centrais sindicais - a outra é o projeto
de lei que regulamenta a terceirização (PL 4.330/2004), em análise no Plenário
da Câmara.
A
assessoria do senador informou que ele não manifestou animado com a ideia de
condicionar a votação da matéria à pressões contra o governo para regulamentar
o imposto sobre grandes fortunas.
Rocha
contabiliza avanços na matéria, como a manutenção do atual regime para a
obtenção do seguro-defeso pelos pescadores, cuja carência se mantida em um ano,
como é atualmente, de acordo com o relatório do senador.
Várias propostas
Em
1989, o então senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB) propôs a regulamentação
de um tributo federal previsto na Constituição. De lá para cá, mais de 26 anos
depois, a mesma pauta foi apresentada no Congresso Nacional por pelo menos dez
parlamentares, de diferentes partidos: PT, PSOL, PV, PCdoB, PPS, além do
próprio PSDB. O imposto, no entanto, nunca chegou a ser votado. Surgiu boatos
de que o governo federal cogita ressuscitar a proposta. O líder do governo,
José Guimarães (PT-CE), estava em reunião quando foi localizado e não pode
comentar o assunto.
"Eu
pago para ver", ironiza a ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS).
Luciana, candidata à Presidência em 2014, é autora, ao lado dos deputados Chico
Alencar (PSOL-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP), de um projeto de lei de 2008 que
trata da taxação de patrimônios. "Acho realmente muito difícil que isso
[aprovação do imposto] aconteça. Se acontecer, vou aplaudir, mas acho difícil
que o governo tenha vontade política para levar isso adiante."
A
falta de vontade política atribuída por Luciana ao governo é baseada na
quantidade de vezes em que a gestão petista teve oportunidade de negociar a
entrada da pauta em votação. Depois de quase ser colocado em votação em 2010, o
projeto foi arquivado em 2011. No ano seguinte, acabou desarquivado mas não foi
à votação.
Fonte:
DCI – SP
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