Quando
o tema é o suposto protagonismo que teria sido assumido pelos contadores dentro
das organizações, Marta Pelúcio, professora do MBA de IFRS da Fipecafi
(Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), é bem
menos otimista que seus pares.
Nesta
entrevista exclusiva à Revista Dedução, ela avalia que a aplicação das Normas
Internacionais de Contabilidade, a partir de 2010, trouxe maior subjetividade à
análise dos negócios e ampliou o trabalho dos contabilistas. No entanto,
pondera também que a maior parte dos profissionais continua ocupando o mesmo
espaço de sempre: dando conta da burocracia cotidiana e tocando a rotina
operacional das companhias. “Na maioria das vezes, o contador é quase um
funcionário público. Recebe das empresas para trabalhar para o governo”,
ironiza Marta Pelúcio.
A chegada da Lei 11.638,
que trouxe as Normas Internacionais de Contabilidade ao Brasil, valorizou o
trabalho dos contadores?
O IFRS ampliou o grau de subjetividade na
análise dos negócios e vem fazendo com que os contadores precisem ter uma
postura mais ativa dentro das organizações e perante seus clientes. Mas percebo
que os contabilistas continuam ficando com a parte menos nobre do trabalho.
Como assim?
Quando
o trabalho vai para as questões mais complexas, como, por exemplo, preparar um
laudo contábil que será utilizado numa combinação de negócios ou uma fusão,
quase sempre é executado por um advogado especializado em negócios. Tanto que
já se comenta no mercado que há faculdades querendo criar uma disciplina
chamada Direito da Contabilidade.
Há advogados buscando
cursos de Contabilidade para atuar na área?
Sim.
Com frequência cada vez maior. Como eles conseguem eliminar várias disciplinas
(matérias que são comuns aos cursos de Direito e Contabilidade), muitos
procuram cursos e estudam dois anos para depois poder trabalhar também como
contadores e assinar laudos.
Então os contabilistas
estão perdendo espaço dentro de sua própria área?
Sim.
Os contadores hoje ficam com os piores clientes, que são aqueles que demandam o
trabalho do dia a dia e pagam a pior remuneração. Já os advogados são
contratados para fazer laudos e trabalhos específicos, que pagam bem melhor.
Hoje,
em muitas organizações, os contadores são quase funcionários públicos. Recebem
dos clientes para trabalhar para o governo.
É possível mudar esse
quadro?
Não
vejo mudanças no horizonte. E faço minha defesa aos contadores, pois eles não
têm tempo de se preocupar com a parte mais nobre e valorizada do trabalho.
A burocracia cotidiana e o
emaranhado de normas tributárias contribuem para o agravamento dessa situação?
Claro.
São leis, normas e instruções normativas complexas. Como há muito trabalho e
demandas diárias envolvendo esse tema, os escritórios de Contabilidade acabam
tendo mais especialistas em questões tributárias do que em Contabilidade
propriamente dita.
Isso porque o risco das empresas passa pelo
trabalho dos contadores. Como não tivemos uma reforma tributária, eles acabam
tendo a mesma responsabilidade do dono no sentido de evitar que a companhia
tenha contingências tributárias. É algo muito sensível nas organizações.
Em geral, o que procuram
os alunos quando se matriculam num MBA em IFRS?
Esse
estudante é um profissional que tem como ambição fazer carreira numa
multinacional, trabalhar em grandes empresas, na área de controladoria, por
exemplo. Uma minoria trabalha hoje e pretende trabalhar no futuro em
escritórios de Contabilidade.
Fonte:
Revista Dedução
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