O
governo federal não deve corrigir a tabela do Imposto de Renda pelo segundo ano
consecutivo, o que levará os contribuintes a pagar ainda mais imposto na
declaração de 2018. Na quarta-feira (29), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
declarou que "não há decisão tomada sobre o tema" e que qualquer
medida que leve ao reajuste da tabela "incidirá sobre as receitas" do
governo.
A
tabela do IR determina quanto se paga de imposto em cada faixa salarial. Se a
tabela fosse corrigida, menos gente pagaria imposto. E quem fosse obrigado a
declarar pagaria menos. Sem a correção, quem ganha R$ 4.000 mensalmente paga
545% a mais de imposto todo mês, de acordo com um estudo.
Veja
abaixo exemplos segundo estudo do Sindifisco (sindicato dos auditores da
Receita). Quem acaba mais prejudicado é quem ganha menos.
Isentos (não pagam nenhum
IR)
Tabela
hoje: é isento quem ganha até R$ 1.903,98
Tabela
corrigida: seria isento quem ganha até R$ 3.454,65
Salário de R$ 4.000
Tabela
hoje: paga R$ 263,87 de IR por mês
Tabela
corrigida: pagaria R$ 40,90 (diferença de R$ 222,97, ou 545,14%)
Salário de R$ 10 mil
Tabela
hoje: paga R$ 1.880,64 de IR por mês
Tabela
corrigida: pagaria R$ 1.161,72 (diferença de R$ 718,92, ou 61,88%)
Rombo do governo deve
impedir queda do imposto
O
Orçamento de 2017 trazia uma previsão de reajuste de 5% na tabela do IR, que
teria efeito sobre a declaração de 2018. Mas, diante do rombo nas contas do
governo, e da sinalização dada ontem por Meirelles, especialistas acham
praticamente impossível que esse aumento saia do papel.
Ao
não atualizar a tabela do IR, o governo consegue aumentar sua arrecadação
porque os salários tendem a aumentar, acompanhando o índice da inflação,
enquanto a base de cálculo do imposto permanece a mesma. Mais gente ganhando mais
paga mais imposto e aumenta a arrecadação do governo
Veja
um exemplo prático: se você recebeu até R$ 28.123,91 de salário em 2015, não
precisou apresentar declarar IR em 2016.
No
IR 2017, o limite de isenção subiu 1,5%, para R$ 28.559,70. Se o seu salário
foi corrigido ao menos pela inflação nesse período, você acumulou ganhos de R$
29.895,71 em 2016. Portanto, agora você terá que fazer a declaração do IR 2017
e, provavelmente, recolher imposto.
"O
governo achou um jeito de arrecadar mais do contribuinte, sem precisar mexer em
nada", declara o coordenador de impostos da Sage IOB, Valdir Amorim.
Para sindicato, governo pune
as classes sociais mais baixas
O
Sindifisco nacional diz que o governo está punindo principalmente as classes
sociais mais baixas ao adotar essa postura. "Neste momento de crise, em que
as pessoas estão endividadas, essa diferença de imposto poderia ser canalizada
para necessidades básicas”, afirma o presidente do sindicato, Cláudio
Damasceno.
O
estudo elaborado pelo Sindifisco nacional mostra que, devidos aos sucessivos
ajustes abaixo da inflação, a tabela do IR já acumula uma defasagem de 83%
desde 1996 até o ano passado.
"A
retenção do Imposto de Renda acontece na fonte, independente da vontade do
contribuinte. Portanto, ele não tem como se defender desse desconto. Muita
gente está pagando imposto hoje quando, na verdade, não deveria ter que pagar”,
diz Damasceno.
Mais pessoas terão de
declarar IR em 2017 e 2018
A
última vez que a tabela do IR sofreu correção foi em 2015, quando a então
presidente Dilma Rousseff estabeleceu reajuste, em média, de 5,6% nas faixas
salariais de cálculo do IR, índice bem inferior à inflação naquele ano, que
superou os 10%. Em 2016 não houve reajuste, apesar de a inflação ter avançado
pouco mais de 6%.
"Ou
seja, mais gente vai passar a pagar imposto em 2017. E quem já pagava, vai
pagar ainda mais", explica Amorim, da Sage IOB. A Receita Federal estimou
que o número de pessoas que terão que apresentar declaração de Imposto de Renda
em 2017 crescera em 340 mil, alcançando 28,3 milhões de contribuintes. Diante
da sinalização dada ontem por Meirelles, esse número continuará crescendo em
2018.
Nada obriga o governo a
reajustar anualmente a tabela do IR
Damasceno
afirma que, do ponto de vista legal, não há nada que obrigue o governo a
reajustar anualmente a tabela do IR ou mesmo de vincular o reajuste ao índice
oficial de inflação (IPCA). "O reajuste tem que ser feito via projeto de
Lei. Mas não há uma obrigação.”
O
presidente do Sindifisco Nacional lembra que o governo de Michel Temer não é o
primeiro a simplesmente protelar o reajuste da tabela do IR. "Isso já
aconteceu nos governos de FHC, entre 1996 e 2001, e Lula, em 2003 e 2004. No
segundo mandato de Lula, 2007, ele baixou Medida Provisória estabelecendo um
reajuste de 4,5%, equivalente ao centro da meta de inflação do Banco Central. A
medida valeu até 2014, já no governo Dilma.”
Fonte:
UOL Economia
Nenhum comentário:
Postar um comentário