Você sabe a diferença
entre capital de giro e fluxo de caixa? O primeiro é o montante de dinheiro que
a empresa tem como reserva para sustentar o segundo.
Ambos
são ferramentas distintas, mas se complementam e garantem a movimentação de um
negócio sem comprometer seu planejamento orçamentário. Principalmente para as
micro e pequenas empresas e os MEIs.
“Capital
de giro é dinheiro para o dia a dia do negócio, para pagar água, luz, aluguel
do ponto, funcionários, comprar produtos...”, afirma João Carlos Natal,
consultor de finanças do Sebrae-SP.
Ou
seja, vendendo ou não vendendo, o capital de giro é uma espécie de “colchão”
que a empresa necessita para garantir um bom fluxo de caixa e continuar
funcionando.
Para
começar, o ideal é que a empresa disponha de seis meses a um ano esse valor em
caixa para cobrir os gastos previstos – regra que deve continuar ao longo da
vida útil do negócio, segundo Natal.
Mas
para formar esse capital, além de fazer um diagnóstico das contas da empresa, é
preciso entender primeiro que elas estão diretamente ligadas à maneira como se
compra e vende produtos.
Se
a empresa começou agora e precisa adquirir mercadorias, precisa saber que no
início só dá para comprar à vista para manter a relação comercial, de acordo
com o especialista.
Por
outro lado, o volume de recursos que vai entrar depende de como são vendidos
seus produtos ou serviços: se à vista ou em uma, duas ou três vezes. “Quanto
maior o prazo para receber do cliente, maior a necessidade de capital de giro”,
diz.
Para
minimizar essa necessidade – que pode levar o empreendedor a recorrer a
empréstimos no banco ou outros expedientes menos vantajosos para manter a
empresa girando, como agiotas – o ideal é usar a regra do “ciclo financeiro em
dias.”
Ou
seja, a medição do ciclo dos estoques, mais o ciclo de recebimento dos
clientes, menos o ciclo de pagamentos, afirma o consultor do Sebrae-SP.
O
problema é que muitas empresas não sabem fazer esse cálculo, segundo ele. “O
ideal é montar essa reserva logo no início do negócio, pois a melhor maneira de
formar esse 'colchão' é com lucro.”
A
seguir, veja o que não fazer para não comprometer a saúde financeira da sua
empresa:
Começar com empréstimo?
Nem pensar
Um
dos maiores erros de quem inicia uma empresa é buscar linhas de capital de giro
no banco. Em primeiro lugar, segundo Natal, é ruim pela competitividade do
mercado: se a empresa já começa assim, não vai ter preço de venda porque vai
cobrar mais para cobrir esses custos.
“É
um limitador de formação de preço. Por que o seu cliente vai comprar de você e
não do concorrente que está há mais tempo no mercado e cobra mais barato?”
Se
a empresa tiver que captar dinheiro no banco, a operação fica mais cara, já que
além do valor nominal do empréstimo, há os juros. “Ela já começa perdendo
competitividade em relação à concorrência”, afirma.
Quando
já está em operação há algum tempo, mas tem de buscar recursos no banco, na
maioria das vezes é porque não está dando lucro. "Ou seja, o negócio não
repõe o dinheiro que necessita para girar", diz Natal.
Daí
até engrossar as estatísticas de causa mortis de fechamento de pequenos
negócios do Sebrae antes de completar dois anos é um pulo - 19% deles alegam ter
encerrado a empresa por falta de capital de giro/lucro.
Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é outra coisa
Uma empresária não
entendia por que sua empresa vivia com problemas de fluxo de caixa por falta de
capital de giro. O motivo: as retiradas frequentes para comprar terrenos e
plantar eucaliptos, um negócio que poderia dar retorno em dez anos, mas que não
tinha nada a ver com a atividade econômica atual da empresa.
Esse,
segundo Natal, é o caso clássico de misturar finanças e interesses pessoais com
empresariais.
Ou
seja, enquanto a empresa precisava de capital para girar, a empresária
descapitalizou-a para imobilizar em um investimento sem retorno garantido.
“Só
podia dar reflexos no fluxo de caixa, mesmo”, afirma.
Empresa não é holerite
Um
dos erros mais comuns quando se fala em capital de giro é que muita gente perde
o emprego e abre a empresa esperando que ela seja seu novo holerite.
O
consultor cita o caso de uma microempreendedora individual que faturava R$ 3
mil mensais, mas não sabia por que não conseguia repor seu estoque de produtos
– mesmo colocando 100% em cima do preço de venda.
Foi
quando ela revelou que, desse total, retirava R$ 1,7 mil como pró-labore.
Resultado: faltava não só para pagar as contas, mas também os fornecedores,
claro.
“Além
de faltar R$ 200 todo mês, é como se a empresa ‘comesse’ a própria mercadoria”,
afirma.
É
essa má gestão do dinheiro que faz com que o empresário tenha maior necessidade
de capital de giro. “Ter lucro é o principal para garantir esse capital”,
reforça. “Mas não adianta lucrar se o empresário tiver outras atitudes que vão
prejudicar a empresa.”
Duplicatas: bom negócio,
desde que o cliente pague
O
desconto de duplicatas por bancos para obter capital de giro é uma prática
comum entre os empreendedores para dar um alívio no dia a dia dos negócios.
A
Associação Comercial de São Paulo (ACSP), inclusive, endossa essa alternativa
por meio da Central de Registro de Direitos Creditórios (CRDC), plataforma
online que gera a duplicata, a endossa e cadastra com numeração única, evitando
que seja utilizada em mais de uma transação.
Natal
lembra que ações financeiras como essa são importantes desde que o negócio
tenha uma reserva. “Os bancos se pautam muito por garantias principalmente no
empréstimo para capital de giro - que nesse caso, podem ser a maquininha de
cartão ou as duplicatas."
Mas
é preciso ter o cuidado de receber esses títulos à disposição, e daí entra a
importância da análise de crédito dos clientes. Afinal, não é porque a
duplicata está no banco que é garantia de que a empresa vai receber.
“Caso
contrário, o banco só vai informar que sua conta está negativa e é preciso
cobrir”, diz. Ou seja, o empresário deve correr atrás antes para não ficar com
o resultado da inadimplência depois.
Direto na origem
Imagine
pegar R$ 20 mil de empréstimo como capital de giro para repor mercadorias –
sendo que seu negócio tem pelo menos R$ 100 mil em estoques parados?
Parece
brincadeira, mas há empresários que pensam primeiro em buscar dinheiro fora
antes de fazer um diagnóstico preciso da sua empresa.
Ou
seja, antes de sair pegando dinheiro emprestado, Natal orienta programar melhor
as compras e olhar para o caixa para saber quando há recursos previstos – ou
seja, para ver se as datas de pagamento de fornecedores coincidem com as de
pagamento dos clientes.
Talvez
essa “necessidade” ocorra por descasamento desse fluxo: se é preciso buscar
dinheiro toda hora para aumentar a quantidade de mercadorias à disposição do
cliente, é porque o empresário comprou mal ou não faz promoções quando deve.
“Os
recursos sempre estarão à disposição do cliente”, afirma Natal. “Mas é preciso
descobrir a origem do problema. Ou não haverá dinheiro que cubra essa
necessidade constante de capital de giro.”
Fonte:
Diário do Comércio - SP
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