O
Senado aplicará uma grande derrota ao Palácio do Planalto nesta semana. Será
também um revés para o plano de ajuste fiscal defendido pela equipe econômica
comandada pelo ministro Joaquim Levy.
Os
senadores vão adiar para agosto, na melhor das hipóteses, a votação do projeto
de lei que pretendia eliminar a desoneração nas folhas de salários de empresas
de 56 setores da economia.
Esse
atraso deve provocar uma reação em cadeia. Haverá alterações no texto. Uma nova
votação na Câmara será necessária. Ao final, é preciso cumprir o prazo de 90
dias para a regra entrar em vigor.
Na
prática, a nova lei sobre folha de pagamentos das empresas só deve entrar em
vigor em 2016. Esse é o objetivo de senadores e de empresários: estender ao
máximo esse debate para tentar não criar mais um ruído econômico agora – que
poderia resultar num aumento do desemprego. O Congresso não quer ficar com a
conta dessa maldade.
O
problema é que o prejuízo para o governo será de R$ 5 bilhões a menos de
arrecadação neste ano de 2015. A perda compromete ainda mais o ajuste fiscal
pretendido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Histórico
Esse
benefício havia sido adotado a partir 2011. Empresas passaram a recolher menos
encargos sobre o número de trabalhadores. A medida estimulou, em parte, a
manutenção do emprego no país – mas produziu um rombo nas contas públicas. Em
2014, o prejuízo para os cofres do governo foi de R$ 21,5 bilhões, segundo
dados da Receita Federal.
A
ideia do governo no início deste ano foi eliminar grande parte dessa
benemerência fiscal, aumentando o percentual de contribuição à Previdência
Social. A proposta inicial da equipe econômica era para que as empresas que
recolhem 1% aos cofres do INSS sobre a receita bruta passassem a pagar 2,5%. As
que pagam 2% de alíquota iriam a 4,5%.
Se
tudo desse certo, o governo federal arrecadaria estimados R$ 5 bilhões a mais
em 2015, considerando-se que entraria em vigor por volta desta época do ano. O
cálculo era da equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quando a medida foi
anunciada em fevereiro de 2015.
Com
o adiamento da votação, os R$ 5 bilhões se evaporaram do esforço de ajuste
fiscal do governo.
De
fevereiro para cá, a presidente Dilma Rousseff sofreu desventuras em série a
respeito desse projeto.
Primeiro,
a medida provisória que introduzia as mudanças foi rejeitada em 3 de março pelo
presidente do Senado (e do Congresso), Renan Calheiros (PMDB-AL).
O
governo então se apressou para reapresentar a proposta por meio de projeto de
lei. Ocorre que o texto ficou na Câmara dos Deputados por vários meses (de
março a junho). Quando aprovado, a proposta saiu desidratada.
Pelos
cálculos da equipe econômica e da Câmara, o projeto votado pelos deputados
produzirá uma arrecadação extra anual de R$ 10 bilhões a partir de 2016. O
governo no início esperava uma renda extra anual de R$ 12,8 bilhões.
Planalto Fracassa no
Senado
Na
semana passada, o Planalto fez uma ampla movimentação para conquistar o apoio
de empresários e do Senado, onde o texto agora está tramitando no momento. Tudo
fracassou.
Estava
prevista para ontem (13/07/2015) uma caravana de empresários a Brasília,
representando todos os 56 setores atingidos. Seria proposta uma alteração no
texto aprovado pela Câmara, que privilegiou só alguns setores. Pela nova ideia,
haveria um aumento linear da carga tributária para todos.
O
ganho de aproximadamente R$ 10 bilhões, tal como havia saído da Câmara, seria
mantido para o governo. Mas a regra seria um pouco mais racional, sem que
alguns setores saíssem mais privilegiados do que os demais.
Técnicos
da Receita Federal trabalharam com senadores e empresários para fazer os
cálculos na semana passada. Hoje ou amanhã seria anunciado um acordo. O
vice-presidente da República, Michel Temer, planejava um coquetel para
celebrar, recebendo empresários e senadores.
Mas
na hora de fechar a proposta, líderes do Senado acharam que não haveria
consenso no plenário. Dessa forma, o projeto ficou para ser votado em agosto,
na melhor das hipóteses.
É
que a partir de 18 de julho o Congresso entra em recesso de duas semanas.
Durante esse tempo, não são contados prazos regimentais.
O
projeto que trata do fim das desonerações em folha de salários foi enviado ao
Congresso em regime de urgência. Isso significa que passaria a trancar a pauta
do Senado 45 após o início de sua tramitação. Como no recesso de julho o prazo
no conta, a data limite para votação vai cair apenas no final de agosto.
Na
prática, a tendência dos senadores é votar esse projeto só em setembro.
Como
haverá modificações, a Câmara teria de apreciar o texto novamente. Em teoria,
se tudo der certo para o governo, no final de setembro a proposta viraria lei
após a sanção presidencial. Ocorre que esse tipo de aumento de tributação
obedece à regra da “noventena”: só passa a valer 90 dias após a publicação no
“Diário Oficial”.
Tudo
considerado, a lei pretendida por Joaquim Levy e pela presidente Dilma Rousseff
poderá ser implantada, na prática, apenas a partir de 2016. E os R$ 5 bilhões
de arrecadação neste ano de 2015 deixam de entrar nos cofres do governo.
O
cálculo para a administração dilmista é desalentador. Todos os projetos
relacionados ao ajuste fiscal foram desidratados pelo Congresso. Mas acabaram
sendo votados.
No
caso da redução da desoneração das folhas de salários, a situação é pior. O
texto não anda. Vai demorar quase um ano para virar lei.
O
resultado é que o governo contabilizará uma perda de, pelo menos, R$ 5 bilhões
neste ano.
Num
momento em que Joaquim Levy busca reconquistar a credibilidade para as contas
públicas, essa notícia sobre o projeto de redução na desoneração das folhas de
salários é um duro golpe nas pretensões do Planalto e da equipe econômica.
Levy no Senado
Quando
percebeu que estava perdida a batalha neste ano de 2015 para aprovar a lei que
retirava a desoneração sobre a folha de salários das empresas, Joaquim Levy
iniciou conversas com senadores. Já sabendo que tudo ficaria apenas para 2016,
estimulou senadores a tentar melhorar o texto que saiu da Câmara. A Fazenda
prefere que seja uma regra mais linear e racional, sem parecer que algum setor
foi mais privilegiado do que outro.
O
líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), foi um dos que discutiu
essa possibilidade com Joaquim Levy. O problema é que o governo não tem
músculos políticos para, neste momento, falar em elevação de impostos dentro do
Congresso. Por causa do ambiente deteriorado, a proposta vai ser cozinhada
lentamente até agosto ou setembro.
Fonte:
Uol Notícias
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