A
possível mudança na cobrança do Programa de Integração Social (PIS) e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) irá gerar o
desemprego de cerca de duas milhões de pessoas em um período de um ano no setor
de serviços do país, segundo estimativa do presidente do Instituto Brasileiro
de Planejamento e Tributação (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral.
A
proposta de unificação do PIS e da Cofins vem sendo discutida desde o primeiro
mandato da presidente Dilma Rousseff, mas ainda não foi enviada ao Congresso
Nacional. A estimativa de entidades empresariais é que, se implementada, gere
um aumento na carga tributária, principalmente no setor de serviços, segmento
que representa quase 70% da economia brasileira.
Hoje
as empresas pagam alíquotas diferentes, que vão de 3,65% a 9,25%, de acordo com
o tamanho da empresa e o tipo de contabilidade. A proposta em discussão no
governo é unificar os impostos com uma alíquota única de 9,25%. A alta seria
compensada pelo desconto do imposto já pago pelos fornecedores. A reclamação é
que as empresas que trabalham com muita mão de obra e poucos fornecedores de
matéria-prima seriam prejudicadas.
“Nós
temos [hoje] 20 milhões de trabalhadores no setor de serviços. É o setor da
economia que mais emprega. Esse aumento ele impacta diretamente, ele chega a 5
pontos percentuais em relação ao faturamento. Isso quer dizer: de cada dez
postos de trabalho, dois serão eliminados, caso se aprove o aumento, porque as
empresas de serviços não terão como repassar esse aumento no valor dos seus
serviços”, declarou.
Um
estudo sobre o impacto de uma unificação dos tributos foi apresentado nesta
segunda-feira (04) no Seminário “Ameaças de Aumento de Impostos e Seus Impactos
Sobre as Empresas”, da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRio).
“Nós
poderemos ter aí um desemprego aumentando por volta de 2 milhões, ou maior,
dada a magnitude, porque muitas empresas estão segurando ainda para que não
aumente o desemprego. Mas seria um fator [a unificação] determinante para que
as empresas não tivessem condições de segurar esses postos de trabalho”,
completou Amaral.
Mobilização do setor
A
apresentação faz parte de uma mobilização do setor que já foi realizada em São
Paulo, Paraná e Brasília, e ocorrerá em agosto no Recife, em Pernambuco, segundo
o deputado federal Laércio Oliveira, presidente da Comissão de Desenvolvimento
Econômico, Indústria, Comércio e Serviços (CDEICS). Haverá, ao todo,
mobilização em doze capitais do país.
“A
intenção do governo de fato é mandar para o Congresso Nacional essa proposta,
acabando com a cumulatividade, e colocando todas as empresas na não
cumulatividade. O que significa isso? Aumento de imposto. Vai ter reflexos no
transporte coletivo, mensalidade escolar, no dia a dia do cidadão porque ele
vai ter produtos essenciais majorado. Nós não concordamos com isso. Estamos
aqui exatamente tratando desse assunto, continuando uma série de mobilização”,
disse Laércio Oliveira.
Segundo
a deputada Laura Carneiro, do PMDB, a bancada do seu partido da câmara não
recebeu “formalmente nenhum projeto”. “Eu mandei uma pergunta ao líder Baleia
Rossi, que é o líder do PMDB na Câmara, e ele me respondeu que também não tinha
recebido nenhum indicativo que chegaria à Câmara. A questão do PIS/Confins não
foi formalizada. Nem a CPMF, mas a CPMF está sendo discutida”.
Desde
2013 o projeto vem sendo trabalhado pelo Governo Federal, segundo Gilberto
Amaral. No entanto, de acordo com ele, “justamente pela mobilização da
sociedade, principalmente pelo setor de serviços, foi seguro”.
Em
agosto do ano passado, o então ministro Joaquim Levy declarou que o governo
desejava enviar o projeto ao Congresso "o mais cedo possível". Na
ocasião, Levy disse que a reforma do PIS e da Cofins buscava simplificar os
procedimentos, aumentar a transparência para as empresas, gerar maior segurança
jurídica, e acabar com a cumulatividade destes tributos, ou seja, que o tributo
não seja pago duas vezes pela mesma empresa.
Orçamento x contribuições
Segundo
Gilberto Amaral, as entidades empresariais entendem que o valor de R$ 30
bilhões previsto no orçamento da União para 2017 em contribuições sociais podem
estar relacionadas às mudanças previstas na cobrança do PIS e Cofins.
“Neste
momento, o governo pretende encaminhar esse projeto para o Congresso novamente
porque há essa coincidência realmente no orçamento da União em se prever o
crescimento na arrecadação de mais de 30 bilhões nas contribuições sociais. PIS
e Confins são contribuições sociais e o governo não sinalizou em querer
aumentar outras contribuições sociais, somente PIS e Confins. Então, a gente
estima que o governo prepara esse encaminhamento, espera somente a definição da
questão o impeachment para o encaminhamento”, concluiu.
Segundo
o IBPT, a mudança acarretará em um aumento dos dois tributos de 3,65% para
9,25%. A entidade estima que a medida afetará 1,5 milhão de empresas, que
pagarão R$ 50 bilhões a mais em tributos.
“Hoje
nos vivenciamos um momento de elevadíssima inadimplência tributaria. Ou seja,
os contribuintes brasileiros não estão conseguindo pagar seus tributos. Nós
temos hoje, de cada dez contribuintes, quatro estão inadimplentes, seja com o
governo federal, estadual ou municipal. Então, qualquer aumento de tributo
neste momento fará com que essa inadimplência cresça”, afirmou o presidente do
IBPT.
Amaral
acrescentou ainda que a inadimplência “já foi recorde no ano passado, hoje o
estoque da dívida dos contribuintes para com o Fisco já ultrapassa arrecadação
anual da União, estados e municípios, e ela cresce exponencialmente. Então,
essa explosão da inadimplência, ela se agravará com qualquer aumento de
tributos. Porque antes do aumento dos tributos as empresas já não estão
conseguindo pagar, imagina com qualquer aumento. Trará um impacto muito forte”,
concluiu.
Fonte:
G1
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