O
país está às vésperas de uma nova mudança regulatória importante: o eSocial. A
partir de 2014 todos os empregadores brasileiros serão obrigados a registrar as
informações trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relacionadas à
contratação de mão de obra com ou sem vínculo empregatício por meio desse novo
sistema eletrônico.
Parte
do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), o eSocial será um avanço na
sistemática de obrigações acessórias. As informações ficarão armazenadas no
ambiente nacional do eSocial, possibilitando que todos os órgãos envolvidos no
projeto – Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Previdência Social,
Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, Ministério da Fazenda, Receita
Federal do Brasil e Caixa Econômica Federal – tenham acesso a elas.
Ao
mesmo tempo em que reduz a burocracia simplificando o envio das informações aos
diversos órgãos governamentais, o eSocial também facilita a fiscalização das
obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais por meio do cruzamento
eletrônico e verificação de dados.
O
eSocial tende a contribuir pouco para melhorar a competitividade e a facilidade
para fazer negócios no Brasil
O
grande desafio para as empresas não é apenas cumprir com o envio das
informações a partir do próximo ano, mas garantir a qualidade da informação e
manter 100% da operação em conformidade com a nova regulação. O mais
preocupante é que, embora algumas empresas já tenham iniciado projetos de
adequação às novas regras, a maioria ainda não tomou providências. De acordo
com uma pesquisa da Receita Federal, 70% das empresas não possuem um projeto
interno ou profissionais dedicados à adequação ao eSocial.
Entre
as empresas pesquisadas, 82% entendem que o departamento de recursos humanos é
o responsável pelas informações requeridas pelo eSocial. Na realidade, o
esforço necessário vai além dos ajustes nos sistemas de folha de pagamento e em
outros processos de RH. Para atender os requisitos, diversos processos de
gestão de pessoas precisam ser readequados, envolvendo áreas como saúde,
segurança e meio ambiente, jurídico, gestão de terceiros etc, além dos impactos
na operação e no modelo de negócios da empresa.
Imagine
o caso de uma empresa do Varejo que precise contratar muitos empregados por
prazo determinado para o período de fim de ano. Antes do primeiro dia de
trabalho, os temporários devem estar cadastrados no sistema com todas as
informações necessárias para o cumprimento das obrigações trabalhistas,
previdenciárias, sociais e fiscais. Isto exigirá maior planejamento nas
contratações e orientação adequada para garantir a correta entrega dos
documentos para a contratação em tempo hábil, bem como para seu desligamento ao
fim do período.
Diante
desse cenário, não causa surpresa que 41% das empresas pesquisadas acreditem
que terão mais dificuldade em lidar com as mudanças culturais e 38%, com os
processos internos e governança. Para 60% das empresas, o principal motivo de
dificuldades virá das distintas origens dos dados e para 21% da qualidade e do
conteúdo e das informações.
Além
das possíveis falhas nas bases de dados e de erros operacionais na geração das
informações, eventuais não conformidades com a legislação trabalhista,
previdenciária e fiscal, muitas vezes desconhecidos pela administração, ficarão
mais evidentes podendo gerar multas e autuações, inclusive com relação ao
período não prescrito.
Diante
de tais riscos, manter a empresa em situação regular vai exigir
fundamentalmente uma mudança de cultura, não apenas dos profissionais de RH
envolvidos diretamente na manutenção dos processos de gestão de pessoas, mas
também dos gestores – muitas vezes responsáveis pelas informações relacionadas
às obrigações incluídas no eSocial – e até dos próprios empregados, que terão
obrigação de comunicar mudanças de endereço ou escolaridade, por exemplo.
É
possível se estabelecer controles e auditoria interna para garantir que todas
as alterações relevantes na vida funcional dos profissionais sejam reportadas
tempestivamente, mas se estes não forem desenhados de maneira inteligente podem
custar caro e engessar a operação. Nessas situações, normalmente o melhor
caminho é desenvolver uma cultura de conformidade.
O
eSocial vai de fato contribuir para diminuir a burocracia no envio de
informações para as autoridades, contudo a adequação à nova realidade exige
Investimento de tempo e de recursos. Embora, como o governo ressalta, nenhuma
obrigação nova esteja sendo criada, nem todas as empresas conseguem atender as
exigências da extensa regulamentação do trabalho no Brasil. Diante da
complexidade da regulamentação, o eSocial tende a contribuir pouco para
melhorar a competitividade e a facilidade para fazer negócios no Brasil. No
quesito gestão de pessoas, o país figura entre os países com o maior número de
exigências e maior custo para contratar, manter e desligar um empregado – Doing
Business, World Bank, 2013.
É
imperativo que ao assumir mais essa obrigação as empresas procurem modos
inteligentes de fazê-lo, redesenhando processos, capacitando empregados e
gestores, mudando políticas, procedimentos e posturas, para que o cumprimento
pleno da regulamentação do trabalho esteja alinhado ao seu modelo de negócios.
É fundamental que a adequação ao eSocial evite adicionar custos à cadeia de
valor das empresas, especialmente daquelas que atuam em setores cuja
competitividade é inferior aos padrões de desempenho internacional.
Fonte:
Valor Econômico
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