A
criação da Malha Fiscal Pessoas Jurídicas, a maior fiscalização dos chamados
grandes contribuintes e a famosa Operação Lava Jato são algumas das operações
voltadas ao segmento responsável pelo maior índice de arrecadação por autuações
no órgão. Por essas e outras, 2015 deve ser o ano da consolidação de
investigações empresariais.
Os
novos processos fazem parte de um esforço conjunto do órgão e demais entidades
reguladoras brasileiras para tornar o ambiente de negócios no País mais
transparente e confiável. A ideia é, entre outras, ampliar o crédito
tributário, que, no ano de 2014, chegou a R$ 150,5 bilhões, fator indispensável
em tempos de crise.
A
Receita estima que, apenas neste ano, cerca de 46 mil contribuintes com
indícios de irregularidade serão notificados. Só no Rio Grande do Sul, desde
fevereiro, 5,343 mil pessoas jurídicas receberam aviso da Receita Federal por
meio de cartas ou telefonemas para efetuarem regularizações em seus débitos com
a instituição. Os valores, no Estado, devem ultrapassar R$ 460 milhões.
Para
o superintendente da Receita Federal do Brasil no Rio Grande do Sul, Paulo
Renato Silva da Paz, a fiscalização sempre aconteceu. Porém, admite que ela vem
se intensificando, principalmente pelas novas possibilidades geradas pelo uso de
mais tecnologia.
Os
investimentos em Tecnologia da Informação (TI), garante Paz, trazem benefícios
ao Fisco e às empresas. "A tendência é que as empresas tenham mais
segurança do conteúdo submetido à Receita Federal e consigam, com o passar do
tempo, legalizar sua situação fiscal com muito mais facilidade. No caso da
Malha Fina Pessoa Jurídica, por exemplo, trabalhamos para que a regularização
possa ser feita pela internet", destaca Paz.
Regularização pode ser
feita on-line
A
recentemente lançada Malha Fiscal Pessoas Jurídicas aproveita a expertise da
Receita Federal no cruzamento de dados disponibilizados pelas pessoas físicas e
utiliza um modelo semelhante de apuração de fraudes empresariais, com pequenas
alterações. O objetivo é realizar a apuração de inconsistências tributárias e
possibilitar que os empresários se autorregularizem.
A
Receita Federal envia correspondência indicando a existência de extrato na
internet. O acesso ao Extrato Malha Fiscal Pessoa Jurídica deve ser feito via
portal e-CAC utilizando a certificação digital. Por enquanto, nem tudo pode ser
resolvido no ambiente on-line. Mas, segundo o superintendente da Receita
Federal do Brasil no Estado, Paulo Renato Silva da Paz, grande parte do
processo de regularização já pode ser encaminhado pela internet e a expectativa
é que, com o passar do tempo, a fila de espera para resolução dos problemas
seja extinta.
Trabalhamos
para que o sistema acuse a inconsistência pouco tempo depois do envio de
informações. Isso poderá acabar com as filas para regularização de débitos e
garantir a sobrevivência de muitas empresas", afirma Paz. As dívidas
tributárias são uma das causas comuns de falência, e o número de contribuintes
aguardando atendimento é grande.
O
presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, explica que a autorregularização
pode, inclusive, garantir ao contribuinte a vantagem de não ter de arcar com as
multas incidentes. Lançado em 23 de fevereiro, o programa Malha Fiscal Pessoa
Jurídica já notificou 26 mil empresas, entre pequenas, médias e grandes, com
dívida total de aproximadamente R$ 7,2 bilhões. O projeto presta especial
atenção ao tributo com maior representatividade nas autuações: o Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ). Segundo dados da Receita Federal, o valor das
autuações em IRPJ, em 2014, foi de R$ 51,206 bilhões, 35,5% do total arrecadado
(R$ 144 bilhões). Após, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) são os responsáveis por R$ 25 bilhões e R$ 19 bilhões, respectivamente.
O total do crédito tributário chegou a R$ 150,5 bilhões.
Facilidade não exclui
possíveis multas
O
interesse em intensificar a fiscalização dos dados empresariais não é de hoje.
Principalmente após a entrada em vigor do Sped, em 2007, as entidades
empresariais notaram o aumento na responsabilização das organizações e dos seus
contadores e auditores. Como medida preventiva, o planejamento tributário se
tornou ainda mais importante para evitar futuras autuações.
As
multas aplicadas no caso de fraudes variam de 75% a 225% sobre o valor sonegado.
Por isso, ressalta o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, ao serem
notificadas, as empresas devem aproveitar o prazo de 90 dias para acertar as
contas. "Elas devem aproveitar este período para tomar as providências
necessárias junto à Receita Federal? e evitar a aplicação de multas",
indica Bohn, salientando que, somente após o decurso deste prazo, o órgão
poderá aplicar qualquer sanção.
O
advogado Charles Tessmann, diretor-geral da Tessmann Assessoria Empresarial,
diz que as penalizações podem ser execução fiscal, penhora de bens e, em
situações extremas, o fechamento da empresa. "Em alguns casos, os sócios e
até mesmo o contador responsável podem ser enquadrados por crime, respondendo
judicialmente", adverte Tessmann.
É
preciso ficar atento também com os formatos de autorregularização criados pela
Receita Federal. Segundo Tessmann, "para pagamentos à vista não são
criados empecilhos, mas para pagamentos parcelados é tudo muito burocrático e
os juros, altos", alerta.
Para
o presidente do Sescon/RS, Diogo Chamun, isso comprova "uma mudança no
paradigma de quem é responsável pelas obrigações acessórias". "Antes,
tudo era delegado aos profissionais da área contábil. Agora, com o Sped a todo
vapor, tudo parte dos sistemas empresariais e quanto mais completa a
informação, mais seguro para todos", defende.
Fonte:
Jornal do Comércio – RS
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