Será
cada vez mais difícil driblar a fiscalização da Receita Federal (RF), seja pelo
aperfeiçoamento do sistema ou pelo atual momento econômico, que exige do
governo maior corrida por recursos. É o que avaliam especialistas ouvidos pelo
DCI.
Dados
da Receita mostram que as autuações de Pessoas Físicas (PF) cresceram bastante
neste primeiro semestre nos segmentos de autônomos, funcionários públicos e
aposentados.
No
primeiro segmento, a fiscalização gerou créditos tributários 349,3% maiores até
junho, em relação ao mesmo período de 2014, no valor de R$ 237,239 milhões.
Já
as autuações de funcionários públicos e aposentados mais que dobraram, saltando
de R$ 79,090 milhões nos seis primeiros meses do ano passado para R$ 200,572
milhões neste ano.
O
advogado tributário João Victor Guedes, do L.O. Baptista-SVMFA, ressalta que a
retração da atividade econômica, aliada ao aumento da carga tributária, faz com
que o cumprimento das obrigações fiscais dos autônomos se torne mais difícil.
"Tendo
em vista a crise que assola o Brasil, muitos setores da economia passam por
problemas financeiros e os autônomos não fogem dessa regra. O crescimento das
autuações nesse segmento mostra que muitos deles não estão tendo condições de
honrar suas dívidas tributárias. Em momentos difíceis eles podem preferir, por
exemplo, pagar seus fornecedores ao invés do governo, deixando para quitar o
débito com a Receita em um momento posterior, quando a situação melhorar",
afirma o advogado. "Portanto, muitas vezes, não se trata de sonegação, mas
de esperar um cenário mais favorável", acrescenta.
Maior investigação
Em
agosto, o subsecretário de fiscalização da Receita Federal, Iágaro Jung
Martins, disse que o aumento das autuações de profissionais do esporte, como de
jogadores de futebol, havia puxado o crescimento das infrações tributárias dos
autônomos. Guedes acrescenta que o segmento artístico também está sendo mais
fiscalizado e que as autuações desses profissionais se elevaram.
Sobre
o funcionalismo público, o advogado lembra que as operações de investigação se
elevaram nos últimos anos, um dos principais fatores que vêm impulsionando o
crescimento das autuações nesse setor. "Nos últimos meses, a Receita vem
alocando mais pessoas para investigar casos que sugerem atividades
ilícitas", afirma Guedes.
De
fato, o representante da Receita confirmou que as operações que investigaram
casos de corrupção entre servidores públicos foram responsáveis pelo aumento
das autuações. Ele citou a "Máfia do ISS", que desviava recursos
apurados pelo Imposto sobre Serviços (ISS). De acordo com o Ministério Público
(MP), o esquema de corrupção causou um prejuízo da ordem de R$ 500 milhões aos
cofres das cidades.
O
advogado da L.O. Baptista-SVMFA lembra da Operação Zelotes, ainda em andamento,
que foi deflagrada pela Polícia Federal em março deste ano, para investigar um
esquema de corrupção envolvendo o Conselho de Administração de Recursos Fiscais
(Carf).
Valeria
Zotelli, advogada e sócia da área tributária do Miguel Neto Advogados, também
atribui o aumento das autuações à modernização do sistema da Receita e destaca
que o atual momento econômico também colabora para a intensificação das
fiscalizações.
Sem volta
A
advogada ressalta ainda que o aperto do fisco veio para ficar e que, cada vez
mais, os contribuintes vão precisar seguir "de forma mais rigorosa a
legislação" e cumprir com as suas obrigações tributárias.
"Não
dá mais para fazer as declarações de qualquer jeito", afirma. "Hoje,
a Receita Federal tem muito mais condições de fiscalizar com mais precisão,
devido aos seus softwares modernos que conseguem captar muito mais distorções".
Para
Guedes, com o aprimoramento do sistema, o governo vai precisar criar mais
programas de anistia e de parcelamento de dívidas, já que muitos casos de
infração são de pessoas que estão sem condições de arcar com as suas
obrigações, dado o momento ruim da economia.
Apesar
de as autuações terem crescido entre autônomos, aposentados e funcionários
públicos, os mesmos dados da Receita mostram que, no total, as autuações de
pessoas físicas tiveram uma queda de 13,6% no primeiro semestre deste ano, em
relação ao mesmo período de 2014, para R$ 2,136 bilhões. Para Valéria Zotelli,
os dados mostram que uma boa parcela da população já está organizando melhor o
processo de declaração tributária.
Segundo
a Receita, são monitoradas, em 2015, 9.478 pessoas jurídicas, cuja quantidade
corresponde a menos de 0,01% do total de empresas no Brasil, e 5.073 pessoas
físicas estão sob acompanhamento diferenciado em todo o território nacional.
Apesar do reduzido quantitativo de contribuintes, os recolhimentos dessas
pessoas jurídicas representam aproximadamente 65% da arrecadação da Receita.
Fonte:
DCI – SP
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