A
volta da CPMF promete ajudar o governo a ajustar as contas públicas. O imposto
tem alto poder de arrecadação, já que incide sobre praticamente todas as
movimentações financeiras, que em 2014 somaram 47 bilhões de operações,
impulsionadas pelo aumento da população bancarizada do País, hoje de 91,2
milhões de clientes.
Mas,
mesmo taxada com alíquota reduzida, a CPMF é rejeitada pela população, que
tende a não aceitar nenhum novo imposto, principalmente pela sua incidência em
cascata. O Dia consultou especialistas para saber como reduzir a incidência do
imposto. A principal recomendação é diminuir as movimentações bancárias.
“Na
saída de dinheiro da conta o tributo já é cobrado”, afirma a educadora
financeira e professora dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Myrian Lund.
“É difícil fugir da cobrança, pois a maioria dos salários é depositada em
conta-corrente”, acrescenta o professor da Estácio João Abrantes Cruz.
Vice-presidente
da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade
(Anefac), Miguel Oliveira diz que há poucas possibilidades de fugir da CPMF. A
saída é priorizar o uso do dinheiro e reduzir o uso de cartões, explica ele.
Quem recebe o salário na conta não tem como fugir de ser taxado.
“Se
a pessoa recebe em dinheiro e pretende pagar contas logo, deve guardar, e não
depositar de novo na conta, para não ser novamente taxado”, diz Oliveira.
Segundo ele, o consumidor é bitributado com a CPMF, pois em cada fase da cadeia
produtiva de uma empresa é embutido o imposto – e o valor, cobrado no produto
final.
Já
o educador financeiro Reinaldo Domingues recomenda que as pessoas façam
pagamentos em dinheiro e à vista: “Com o dinheiro, além de não ser taxado,
ainda terá desconto”.
Tira-dúvidas
O
professor de Finanças do Ibmec Gilberto Braga ensina como funciona a taxação do
imposto, de acordo com as regras antigas.
Quem ganhou R$ 1.500 e tem
despesas a pagar de R$ 1 mil. O que deve fazer com os R$ 500?
Se
ele pretende usar os R$ 500 em pouco tempo, o ideal é guardá-lo e não
depositá-lo na conta. Se for gastá-lo em mais de 30 dias, deposite o valor na
poupança, para que renda.
Quem tem R$ 3 mil na
poupança e, três meses depois, saca o valor, quanto ele renderia? Vale a pena
retirar e ser taxado pela CPMF?
Uma
poupança de R$ 3 mil vai render cerca de R$ 45, e a CPMF será de R$ 6.
A
CPMF seria cobrada se a transferência fosse entre contas de titulares
diferentes?
De
acordo com as regras antigas, sim. O ideal é evitar a transferência. Se
possível, fazer trocas diretas e repassar dinheiro. Se receber um cheque, pode
endossá-lo e repassar para um pagamento. Se as contas forem de instituições
diferentes, terá de pagar a taxa do DOC ou TED.
Um profissional Pessoa
Jurídica que movimente para sua conta pessoal é tributado?
Sim.
Será taxado quando fizer a transferência e também quando for pagar qualquer
conta ou sacar dinheiro na conta pessoal. Uma dica seria a PJ pagar alguns
compromissos da pessoa física na mesma conta.
CPMF expõe crise da
Previdência
A
provável volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF)
expôs a polêmica do déficit da Previdência Social. A reedição do tributo —
criado em 1996 e extinto em 2007, com alíquota de 0,38% — é vista pelo governo
como solução para cobrir o rombo de R$ 88,9 bilhões do setor neste ano – e que,
segundo a União, deve chegar a R$ 124,9 bilhões em 2016. Se aprovado no
Congresso, o imposto vai arrecadar 0,20% de toda movimentação financeira — cada
operação nas contas vai engordar os cofres da União.
A
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para a volta do imposto será enviada ao
Congresso até esta segunda-feira (21). Segundo o ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, a população de baixa renda e beneficiários da Previdência Social não
serão taxados com o imposto.
A
arrecadação da CPMF reforçaria o caixa da União em R$ 32 bilhões no ano que vem
e seria responsável por metade do ajuste nas contas públicas, de R$ 64,9
bilhões. Com isso, o rombo previdenciário seria reduzido para R$ 92,9 bilhões.
Mas
a proposta é criticada por tributaristas, que negam a existência do déficit no
setor. Segundo a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário (IBDP), Adriane Bramante, o cálculo feito pelo governo só leva
em conta a arrecadação com a folha de pagamento de todos os empregados e exclui
os valores provenientes da Seguridade Social — da qual a Previdência, Saúde e
Assistência Social fazem parte.
Ela
cita ainda dados da Associação Nacional dos Auditores Fiscais (Anfip), que
apontam superávit de R$ 62,7 bilhões na Previdência em 2015. “O cálculo deve
considerar toda a arrecadação da Seguridade e não só a da folha de pagamento. O
ideal seria levar em consideração toda a arrecadação e trabalhar com uma conta
real, sem reduzir direitos sociais já conquistados”, diz a especialista, que
critica a reedição da CPMF.
“O
governo não reconhece essa conta. Isso é para dizer que a Previdência está
deficitária e justificar a reforma. E já tivemos cortes de direitos sociais nos
últimos meses, como na pensão por morte e alteração de regras do
seguro-desemprego."
Mesmo
‘aliviando’ a população de baixa renda e segurados do INSS, a volta do imposto
preocupa muita gente. “Vai prejudicar o mercado no qual atuo, o imobliário”,
opina o empresário Newton Mendonça, de 78 anos. A aposentada Aida Pires, 66,
também reclama: “Deveriam reduzir outros gastos, ministérios e cargos
comissionados".
A
volta do imposto recebeu apoio ainda de governadores, que defendem alíquota de
0,38, para repartir 0,18% da arrecadação com os Estados. Além de seu retorno, o
governo anunciou outras medidas para arrecadar R$ 45,7 bilhões no ano que vem.
As propostas foram encaminhadas ao Congresso como Medidas Provisórias (MPs).
Entre
as ações estão as mudanças no Imposto de Renda Pessoa Jurídica do Sistema S,
redução do benefício para o setor químico e congelamento de salários do serviço
público.
Preocupada
com a expectativa de vida da população, que só cresce, gerando mais
aposentados, a União também estuda alterar a idade mínima de aposentadoria, dos
60 atuais para 65 às mulheres e de 65 para 70 aos homens.
Fonte:
Brasil Econômico
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