Depois
de décadas de disputas na Justiça e no Congresso Nacional, o governo federal
acena com a possibilidade de apoiar uma proposta que aumenta a remuneração do
FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O
Ministério das Cidades e a Caixa, que são parte do conselho do FGTS, já
manifestaram apoio ao projeto do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) sobre o tema.
A
proposta prevê a distribuição do lucro anual do fundo entre todos os cotistas,
proporcionalmente e de forma escalonada, e é uma alternativa aos projetos que
estabelecem um percentual fixo de reajuste acima dos atuais 3% + TR ao ano.
Há
hoje cerca de 20 projetos em discussão na Câmara, que tramitam em conjunto com
uma proposta de 2008 da Comissão de Legislação Participativa. O projeto mantém
o índice atual e acrescenta a correção pelo IPCA.
A
proposta pode ser votada nesta semana com outros projetos. Entre eles, o que
conta com apoio do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
De
autoria dos deputados Leonardo Picciani (PMDB-RJ), Paulo Pereira da Silva
(SD-SP) e Mendonça Filho (DEM-PE), a proposta iguala a regra do FGTS à da
poupança: correção de 6,17% ou 70% da taxa Selic + TR ao ano.
Nesse
caso, a nova remuneração valeria apenas para os depósitos feitos a partir de
2016. O saldo até 2015 continua com a correção atual.
Entidades
contrárias a esse projeto argumentam que o fundo não teria recursos para pagar
a correção fixa a partir de 2018, pois em três anos utilizaria todo o dinheiro
em caixa a fim de cobrir o custo extra.
Isso
ocorreria porque o dinheiro já emprestado, muitas vezes por prazo de 20 anos,
tem um rendimento inferior ao da poupança (5,6% + TR ao ano). Além disso,
paga-se uma taxa de 1% à Caixa, que administra as contas. Também inviabiliza o
programa habitacional Minha Casa Minha Vida, ao elevar as prestações em quase
40%.
No
entanto, se essa alternativa ganhar força no Congresso, o governo não descarta
adotá-la de forma escalonada para diminuir o impacto sobre o caixa do FGTS.
O
deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), relator do projeto, afirmou que vai buscar uma
alternativa para aumentar a correção do FGTS, que será apresentada nesta terça
(18) ao presidente da Câmara.
Defesa
Defensores
da correção maior argumentam que o banco poderia abrir mão de parte da sua
remuneração em prol do trabalhador. Essa é a proposta da CNS (Confederação
Nacional dos Serviços).
Reclamam
ainda do FI-FGTS, um dos mecanismos utilizados para emprestar recursos a juros
baixos para empresas, que somava R$ 33 bilhões em junho deste ano.
Dizem
também que o fundo tem um patrimônio próprio de R$ 78 bilhões, acumulado à
custa de uma remuneração menor ao trabalhador, e que está aplicado hoje em
títulos públicos. Com parte desse valor, seria possível cobrir a correção
extra, segundo os autores do projeto.
Associações
dos setores da construção (CBIC), incorporadoras (Abrainc) e da indústria (CNI)
manifestaram apoio ao projeto de distribuir os lucros.
“Como
empresa pública membro do governo, a gente se alinha com a proposta de
distribuição de resultado, que teria um efeito muito positivo”, afirmou na
semana passada Sérgio Gomes, superintendente do FGTS da Caixa, em audiência
pública.
Entre
2010 e 2014, o fundo lucrou R$ 44,9 bilhões, dinheiro suficiente para uma
correção adicional de cerca de 3,5% ao ano no período.
Mario
Avelino, presidente do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, defende que se
troque a TR pelo IPCA, como está no projeto de 2008.
“O
governo tem de fazer política pública com dinheiro do Tesouro, e não só com o
do trabalhador celetista.”
Fonte:
Folha de S. Paulo
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