Depois
da liberação dos saques das contas inativas do FGTS, o governo prepara um novo
“pacote de bondades” para neutralizar o impacto negativo da aprovação das
reformas da Previdência Social e trabalhista. A principal medida em estudo é a
correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), cuja eventual
adoção ajudaria o governo e a base aliada no Congresso nas eleições de 2018.
Para compensar o impacto fiscal bilionário, a contrapartida seria tributar
dividendos, que são isentos de imposto.
A
proposta que circula em um grupo restrito no governo dobra a faixa de isenção
do IRPF, dos atuais R$ 1.903 para R$ 4 mil. O impacto fiscal efetivo da medida
ainda será calculado, mas ela já conta com restrições dentro da área econômica.
Por outro lado, é vista com bons olhos pelos aliados, que teriam o que levar ao
eleitor para justificar seus votos nas reformas.
O
assunto já foi discutido pelo presidente Michel Temer com deputados e
senadores, inclusive do PMDB, com quem manteve conversas reservadas nos últimos
dias. A proposta é uma resposta à cobrança de aliados para que o governo faça
novo aceno (além da liberação das contas inativas do FGTS) às classes mais
populares para proporcionar um discurso aos que voltam às urnas em 2018.
A
cobrança ganhou mais corpo no Senado, a quem caberá “chancelar” as reformas
trabalhista e previdenciária, para que não retornem à Câmara. Muitos senadores
já terão de explicar ao eleitor seu envolvimento com a Justiça, inclusive na
Operação Lava-Jato, e contam com a adoção de medidas positivas pelo governo
para justificar o voto favorável às mudanças na aposentadoria, um remédio amargo
para a maioria dos brasileiros.
Um
cacique do PMDB afirma que o governo não pode dialogar, exclusivamente, com “o
PIB nacional e a classe política”. Este parlamentar – que tentará se reeleger
em 2018 – alerta que o governo precisa acenar aos mais pobres.
“Não
dá pra recair tudo sobre os nordestinos e nortistas”, reclama o pemedebista.
“Por que o Funrural não é cobrado do agronegócio, por que as operações
desoneradas [como os dividendos] não pagam um pouco dos déficits?”, questiona o
parlamentar, que se reuniu recentemente com Temer.
Em
troca dos votos da bancada do agronegócio, com 220 deputados e 16 senadores, o
governo aceitou renegociar as dívidas dos produtores rurais relativas ao Fundo
de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), a contribuição previdenciária
dos trabalhadores rurais: uma transação estimada em R$ 10 bilhões, com o perdão
de juros e multas.
O
parlamentar do PMDB reclama que não adianta anistiar parte do Funrural, porque
essa “bondade” não alcança grande parte dos brasileiros, muito menos nas
regiões Norte e Nordeste, de onde vêm 48 senadores. (Para aprovar a reforma
previdenciária, são necessários 49 votos).
A
ideia de aumentar a faixa de isenção do IRPF vem circulando no governo há
alguns meses, mas esbarra na resistência dos técnicos. Uma fonte destaca que a
ideia de levar a faixa de isenção para R$ 4 mil eliminaria contribuintes que
ganham muito acima da renda média nacional. Em 2015, a renda per capita do
brasileiro foi de R$ 1,113 mil. “Seria uma medida regressiva”, diz a fonte,
ponderando que o Brasil já é conhecido por ter uma estrutura tributária que
penaliza os mais pobres.
A
retomada da tributação de dividendos, por sua vez, já foi discutida no governo
Dilma Rousseff, na gestão de Joaquim Levy na Fazenda. A tese não prosperou
diante da forte resistência do Congresso à elevação de impostos. Na proposta em
discussão no governo Temer, essa nova tributação atingiria inclusive os
chamados sócios-cotistas, que recebem seus vencimentos na forma de dividendos.
Existe,
ainda, nessa questão uma controvérsia sobre bitributação, já que as empresas já
pagam imposto sobre o lucro, por meio do IRPJ e da CSLL. No entanto, muitos
países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo
de países desenvolvidos no qual o Brasil tem interesse em ingressar, têm
tributação sobre dividendos.
Estudos
dos economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sérgio
Gobetti e Rodrigo Orair, em 2015, apontavam potencial de ganho de mais de R$ 40
bilhões com essa medida, considerando uma alíquota de 15% sobre essa renda.
Paralelamente,
a tributação de dividendos também poderia ser um caminho para fechar uma das
brechas já utilizadas na chamada “pejotização”, quando pessoas físicas são
transformadas em empresas. Há muitos casos em que trabalhadores são contratados
como sócios-cotistas e recebem seus salários na forma de dividendos, deixando
de pagar o imposto de renda e de recolher a contribuição previdenciária.
Contudo,
há ceticismo na área econômica sobre o real potencial arrecadatório da medida e
se ela realmente seria suficiente para compensar a forte perda de arrecadação
com a elevação agressiva da faixa de isenção do imposto de renda da pessoa
física.
Fonte:
Legisweb
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