Em
meio à falta de arrecadação para garantir o cumprimento da meta fiscal deste
ano e de 2018, o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
Receita Federal (Unafisco), Kléber Cabral, avaliou que há espaço para a Receita
Federal apertar mais a tributação dos setores da economia que têm obtido
grandes lucros mesmo na crise econômica, como o de bancos, bebidas, energia e
mineração.
Ele
defendeu a volta da tributação sobre lucro e dividendos para pessoas físicas.
Segundo
ele, a equipe econômica não mexeu como deveria nas desonerações criadas durante
o governo anterior e ainda enviou ao Congresso, no final de 2016, um projeto de
novo Refis.
Foi
a senha para parte do empresariado parar de pagar não apenas as dívidas
tributárias já constituídas, mas também os débitos correntes - problema que
está dando dor de cabeça para o comando da equipe econômica devido à
dificuldade de previsão de receitas até o final do ano.
Com
tantas incertezas, o governo deve pedir a mudança da meta fiscal deste ano,
como já admitiu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
O
presidente da Unafisco ressaltou que, agora, a Fazenda se debate entre o texto
original da Medida Provisória 783, que institui o Refis, e o relatório do
deputado Newton Cardoso (PMDB-MG), que reduz a quase zero a previsão de
arrecadação com o programa de parcelamento de débitos tributários.
Estudos
da Unafisco demonstram uma perda de arrecadação de R$ 50 bilhões por ano em
razão dos recorrentes programas de parcelamento.
Na
sua avaliação, a Receita tem pessoal qualificado para saber onde estão os
recursos mesmo em tempos de crise, com uma cobrança maior do Imposto de Renda
(IR) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Para
ele, há espaço para arrecadar mais tributando o pagamento de lucros e
dividendos, como ocorre em diversos países.
"Mais
uma vez, esses mesmos grupos de interesse que sequestraram o parlamento não
permitem que tal proposta avance", criticou. "Foram pagos R$ 200
bilhões de distribuição de lucros no ano passado. Se fosse cobrado, arrecadaria
R$ 30 bilhões", previu.
Cabral
ressaltou que a Fazenda deveria voltar-se seriamente para esse tributação, que
não tem o efeito colateral difuso de contaminar toda a economia como a elevação
do PIS/Cofins sobre os combustíveis.
O
empresariado, porém, se queixa de já terem sido tributados na Pessoa Jurídica,
e que tributar novamente na Pessoa Física seria uma forma de bitributação.
Para
Cabral, trata-se de uma "meia verdade". Segundo ele, com exceção do
Brasil, todas as economias relevantes do mundo tributam os dividendos
distribuídos aos sócios. Além disso, disse ele, boa parte das empresas declara
prejuízo fiscal, aproveitando-se de "permissivos legais".
As
empresas tributadas pela sistemática do lucro presumido também distribuem aos
sócios valores superiores aos oferecidos à tributação na PJ. "Ou seja: não
se paga nem lá, nem cá", criticou.
Ele
destacou que uma alternativa para afastar o discurso da bitributação, seria
utilizar a chamada "imputação", usada em alguns países, tributando a
distribuição dos lucros aos sócios na tabela do Imposto de Renda da Pessoa
Física, mas permitindo a compensação de parte ou todo o imposto de renda pago
na PJ.
Fonte:
Diário do Comércio – SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário