Este
ano será o último das contratações temporárias como conhecemos. Com a entrada
em vigor da reforma trabalhista, em 12 de novembro, a perspectiva para 2018 é
que a nova lei altere a dinâmica dos empregos sazonais e que boa parte da
demanda seja suprida pelo regime intermitente.
Neste
Natal, as incertezas em relação a nova legislação ainda manterão as vagas
centradas no contrato temporário. "No médio prazo, com o amadurecimento
das regras, veremos uma mudança na dinâmica das contratações para datas
comemorativas", afirma o assessor jurídico da Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Lázaro José de
Sá.
De
acordo com ele, o regime do trabalho intermitente, que permite que o empregador
contrate por dia ou hora - dependendo da necessidade da loja -, deve suprir as
demandas sazonais, substituindo em grande parte os contratos temporários.
Para
as empresas, explica, será mais interessante formar uma base de profissionais
contratados pela 'jornada flexível' e que serão acionados apenas nas datas
sazonais, já que o contrato traz vantagens em relação ao temporário. A
modalidade, por exemplo, gera um vínculo maior entre a companhia e o
funcionário, garantindo que a empresa tenha um trabalhador mais produtivo sem
incorrer em um excesso de gastos com encargos trabalhistas. Em outras palavras,
o trabalhador intermitente será mais especializado na função, já que atuará de
forma constante com a rede.
"Do
ponto de vista de produtividade e fidelidade o regime intermitente tende a ser
mais benéfico. No temporário muitas vezes o profissional que trabalhou no ano
passado não está mais disponível ou foi para o concorrente; no intermitente
cria-se um vínculo entre empresa e trabalhador", afirma o chefe da divisão
econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes.
As
mudanças que a reforma deve impor em relação ao trabalho temporário têm sido
discutidas pela Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem),
entidade que reúne as empresas de recursos humanos (RH) que atuam no segmento.
A visão da associação é que o surgimento do regime intermitente não deve roubar
espaço do setor. Segundo o diretor de desenvolvimento estratégico da Asserttem,
Evando de Souza, a tendência é que as companhias que oferecem hoje o trabalhado
temporário passem a oferecer também a modalidade do contrato intermitente.
"As
empresas do nosso setor disponibilizam serviços de acordo com a necessidade dos
clientes. À medida que o trabalho intermitente ganhe espaço, a própria
atividade deve abraçar esse mercado", explica Souza.
Incertezas
Para
este ano, as mudanças ainda não devem gerar um impacto significativo no
mercado. As incertezas em relação a nova modalidade, que pode sofrer alterações
por Medida Provisória (MP) até novembro, têm deixado o empresariado receoso em
relação a realizar as contratações para dezembro já com o regime intermitente.
O diretor comercial da Sketch, Alexandre Tavares, conta que a empresa chegou a
discutir contratar as vagas para este Natal com as novas regras, mas achou mais
prudente esperar o ano que vem.
"Sabemos
que pelo regime intermitente os vendedores podem trabalhar só alguns dias por
semana ou algumas horas do dia, o que seria muito interessante para o comércio,
mas achamos prudente esperar. Ainda está um pouco incerto."
Em
linha com a visão do executivo, o presidente da Chilli Beans, Caito Maia,
afirma que a empresa tem interesse em realizar contratações pela 'jornada
flexível', mas que a marca está analisando mais a fundo a questão. "Alguns
pontos ainda não estão totalmente claros, mas acreditamos sim que esse contrato
trará uma série de benefícios para o nosso setor", afirma.
A
visão das duas empresas parece ser um consenso no mercado. O diretor de
relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping
(Alshop), Luís Augusto Ildefonso, e Lázaro, da Fecomercio-SP, apontam que, de
modo geral, ainda há uma incerteza em relação a nova lei. O mais provável,
segundo eles, é que a maioria dos empresários do comércio e serviços aguarde um
amadurecimento maior para começar a contratar pela nova modalidade.
"Podemos ter alguns empresários se aventurando e contratando pelo trabalho
intermitente, mas a grande maioria deve optar pelo contrato temporário",
afirma o assessor jurídico da Fecomercio-SP.
Número de contratações
Se
os impactos da reforma trabalhista devem ficar apenas para o ano que vem, a
melhora da economia, por sua vez, já deve surtir um efeito no mercado de
temporários ainda este ano. A previsão da CNC é que o número de vagas abertas
para o Natal seja 10% maior do que o registrado na data do ano passado.
No
total, 73,1 mil temporários devem ser contratados este ano no varejo, para
suprir o aumento da demanda com as festividades do final do ano. Embora
superior ao número do ano passado, o montante ainda está muito abaixo do
patamar de antes da crise. Em 2013, pico de contratações, mais de 123 mil foram
admitidos (veja no gráfico). "Para voltarmos a esse nível precisaríamos
não só de um resultado bom, mas de uma sequência de anos bons, como tivemos de
2010 a 2013", diz Bentes. Ele pontua, contudo, que um indicador positivo
da pesquisa é a taxa de efetivação, que deve retomar a um índice próximo do
normal, de 35%.
Na
Chilli Beans e na Sketch a perspectiva para as contratações de dezembro também
são positivas. O varejista de óculos, por exemplo, prevê admitir cerca de 700
trabalhadores temporários, ou 10% a mais do que as contratações do ano passado.
Já
a Sketch afirma que deve contratar 20% a mais este ano, totalizando 120
temporários. "Tivemos um ótimo Dia dos Pais e estamos bem animados para o
Natal", afirma Tavares. Segundo ele, a perspectiva da empresa para a data
é de um crescimento nas vendas em torno de 20% a 30%, frente 2016.
Em
relação ao varejo como um todo, a CNC prevê que as vendas do Natal deste ano
cresçam cerca de 4,3%, após recuar 4,9% e 5% em 2016 e 2015.
Fonte:
DCI – SP
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