Os
120 dias até a entrada em vigor da nova legislação trabalhista, sancionada pelo
presidente Michel Temer no dia 13, serão de aumento de trabalho - ao menos nos
departamentos de recursos humanos das empresas.
Os
profissionais têm consultado especialistas para entender pontos específicos da
reforma e tentar não escorregar na interpretação das regras.
Entre
as principais dúvidas práticas que as empresas têm tido estão o registro de
horas extras e o banco de horas, as novas opções de divisão de férias e a
possibilidade de acordo com a empresa em caso de demissão do funcionário, dizem
os responsáveis pelos departamentos.
Contando
com uma maior simpatia dos parlamentares, a reforma trabalhista era considerada
mais fácil de ser aprovada do que o texto que altera as regras da Previdência,
mesmo em um momento de desgaste do governo.
As
empresas, então, já vinham se preparando para as mudanças nas normas da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde antes da sanção de Temer.
"A
demanda por advogados trabalhistas aumentou visivelmente. Não importa se a
empresa é grande ou pequena, elas têm questões específicas, que muitas vezes o
legislador nem leva em consideração. A reforma foi muito aguardada pelos
empresários, mas agora as dúvidas começam a surgir", diz Wolnei Ferreira,
diretor Jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil).
"As
empresas agora estão se mobilizando para avaliar, com seus assessores
jurídicos, como a reforma trabalhista vai causar impacto nos seus negócios,
quando vale fazer alterações na jornada de trabalho, no banco de horas. Quem
não tem condições de aumentar a equipe jurídica, tem contratado consultorias.
São muitos detalhes e não são só as empresas, estou visitando sindicatos para
debater o reflexo das mudanças em quatro meses, se as negociações já feitas poderão
ser afetadas."
Para
Gustavo Mançanares Leme, do Grupo Baumgart (que reúne empresas como a Vedacit,
de impermeabilizantes, e os shoppings paulistanos Center Norte e Lar Center), a
proposta de divisão das férias em três períodos é a que deve causar mais
discussões entre os funcionários.
"Vamos
ter de trabalhar bastante essa questão dentro da empresa. Na prática, o RH
também vai ter de reforçar os cálculos para que a nova divisão das férias não
comprometa a qualidade do trabalho ou deixe algum setor desfalcado."
Leme
diz que o grupo deve passar por uma ampla revisão dos processos de recursos
humanos, para se adequar às novas demandas que surgem com a reforma.
"Com
o maior espaço que se dará para as negociações, as empresas deverão investir na
comunicação interna. Durante mudanças, sempre surgem dúvidas sobre 13º ou sobre
benefícios trabalhistas, como seguro saúde, e temos de nos preparar."
VIDA REAL
As
entidades patronais também estão debatendo se a prevalência do negociado sobre
o legislado poderá criar alguma distorção nas empresas.
Elas
discordam dos sindicatos que representam os empregados - que dizem que o prazo
de quatro meses para a entrada em vigor do texto aprovado pelos parlamentares é
curto -, mas também apontam a velocidade com que o texto foi aprovado em
Brasília, sem ser devidamente discutido com a sociedade, como uma possível
fonte de problemas.
O
primeiro grande desafio que a reforma traz para as empresas é a ampliação da
possibilidade de negociação coletiva, estima o especialista em direito
trabalhista José Carlos Wahle, da Veirano Advogados.
"Se
buscarmos o principal chamariz, do texto aprovado, seria essa prevalência da
negociação.
"É
como um casal que só namorou por correspondência e agora tem de se sentar para
negociar o que nunca foi conversado antes, como remuneração por produtividade.
Haverá necessidade de diálogo em busca de um equilíbrio."
Ele
prevê, porém, um aumento da judicialização em um primeiro momento, até que as
arestas da reforma sejam aparadas.
"Há
uma tendência de aumentar a contratação de advogados e de especialistas nas
empresas. A gente conversa com executivos, nas companhias maiores deve aumentar
a estrutura interna de jurídico", avalia Evandro Corado, presidente da
Associação Paulista de Recursos Humanos (AAPSA).
"Questões
como o teletrabalho vão criar a necessidade de contratos que versem sobre
benefícios, o que deve ser estipulado de jornada, se o funcionário vai ter
vale-refeição. As empresas vão estruturar instrumentos que tragam segurança
jurídica."
Uma
companhia de seguros em São Paulo, com cerca de 1.000 funcionários trabalhando
de forma remota, também tem consultado especialistas para verificar se o
sistema de home office pode ser ampliado agora, com mais segurança jurídica,
com as mudanças previstas para quem exerce esse tipo de atividade.
Desde
2011, a legislação prevê que não há distinção entre o trabalho executado no
estabelecimento do empregador e o feito a distância.
Por
jurisprudência, o empregado em situação de teletrabalho estava sujeito às
mesmas regras que os demais. Com a reforma, esse trabalho passa a ter regras
específicas.
Fonte:
Diário do Comércio – SP
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