Silvia
Maria tem 45 anos, dois filhos casados e emprego fixo há quase duas décadas. O
salário paga as despesas de casa, mas falta uma poupança, para que a empregada
doméstica consiga pagar um plano de saúde e “garantir uma boa velhice”. Sua
renda deve aumentar quando novos direitos previstos pela emenda à Constituição,
conhecida como PEC das domésticas, forem regulamentados e entrarem em vigor,
como adicional noturno, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e
seguro-desemprego.
“Diferença
[no salário] sempre faz. Quando começarem a valer mesmo [os direitos], vou
conseguir guardar dinheiro. Não vou usar para comprar, financiar nada. Já estou
com 45 anos, daqui a pouco 50. Preciso de uma ajuda na minha velhice, ninguém
está livre de doença, vou poder ter um plano de saúde”, diz Silvia, moradora de
São Paulo.
Ao
todo, 7 direitos dos empregados do setor ainda precisam ser detalhados (veja a
lista abaixo), o que depende de votação no Congresso. Enquanto essas regras não
saem, patrões não sabem, por exemplo, quanto pagar de adicional noturno, e os
empregadores não sabem quanto cobrar.
“Não
posso reclamar, porque recebo tudo direitinho, férias, 13º, INSS, mas sempre é
bom [mais direitos], né. Acho que vai ser melhor ainda para aquelas meninas que
começaram a trabalhar agora, que não conhecem muito bem seus direitos”, afirma
Silvia.
Para
a empregada doméstica Edit Pereira da Silva, 52 anos, de Brasília, essa falta
de regulamentação não é positiva para sua categoria, mas espera que “tudo fique
melhor”. “Acho que vamos ter mesmo mais direitos. Assim que a PEC saiu, minha
patroa e o contador dela conversaram comigo sobre hora extra. Passei a anotar
todos os dias o horário em que entro e saio do trabalho, mas ainda faltam
outras coisas que a gente infelizmente não sabe como vão ser. Tem que esperar”,
diz Edit, que trabalha na mesma casa há oito anos.
Há
12 anos na mesma casa de família em São Paulo, Florípedes de Jesus Santos, de
52 anos, também aguarda a regulamentação da PEC para que toda a categoria possa
ter os benefícios. Ela recebe férias, 13º salário e também conta com as folgas
aos domingos. "Recebo tudo o que já é previsto, mas acho que a lei vai
ajudar quem precisa do auxílio-creche para as crianças".
Para
Florípedes, a medida que fará mais diferença é o FGTS. "Às vezes, aos
sábados, ainda faço outra faxina para ter um dinheiro extra, então seria bom
ter um dinheiro guardado para o futuro". Agora, ela espera que a
regulamentação saia do papel. "Se a lei vier mesmo vai beneficiar muitas
pessoas, porque nosso trabalho precisa ser mais valorizado", completa.
Segundo
a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São
Paulo, Maria Ferreira Lima, muitos empregadores procuram a entidade em busca de
informações, dispostos a cumprir com as novas regras. “A orientação que damos é
que aguardem essa regulamentação. Não há muito o que fazer por enquanto.”
Projeto parado na Câmara
Mais
de um ano após a promulgação da emenda constitucional das Domésticas, que
garantiu à categoria os mesmos direitos dos demais trabalhadores urbanos e
rurais, profissionais do setor continuam sem poder desfrutar de boa parte dos
novos benefícios, como o seguro-desemprego e o recolhimento obrigatório do
FGTS. Isso porque o projeto de lei que os regulamenta está “travado” na Câmara
dos Deputados.
Ao
todo, a alteração na Constituição garantiu aos domésticos 16 novos direitos.
Sete deles – os que possuem pontos mais polêmicos – estão à espera da
regulamentação para começar a valer: indenização em demissões sem justa causa,
obrigatoriedade de conta no FGTS, salário-família, adicional noturno,
seguro-desemprego e seguro contra acidente de trabalho. O direito de
auxílio-creche sequer tem as regras mencionadas no projeto de lei.
Aprovada
pelo Senado em julho de 2013, a regulamentação para esses 7 direitos seguiu
para aprovação da Câmara dos Deputados, mas até agora não foi votada. Enquanto
não entrar na pauta, tudo fica como está, sem a efetiva aplicação desses
direitos.
Um
ano depois da aprovação da PEC, Mario Avelino, presidente do Portal Doméstica
Legal, afirmou que, na prática, estava em vigor somente a jornada de 8 horas
diárias e 44 horas semanais e o pagamento de horas extras.
"De
resto, nada mudou, as domésticas continuam tendo subemprego, porque elas têm
menos direitos. E os empregadores estão na expectativa de as regras ficarem
claras, o que é ruim, porque muita gente demitiu, muita gente trocou a
doméstica por diaristas, tem gente até que terceirizou o serviço. E quem está
perdendo é o emprego doméstico, é o trabalhador”, disse na ocasião.
Em
abril de 2013, quando a emenda foi promulgada, ocorreu um clima de incerteza
sobre como os patrões deveriam agir, explica, o que causou demissões
precipitadas ou troca de doméstica por diarista.
De
acordo com ele, contudo, esse movimento inicial foi interrompido por um clima
de incerteza e indefinição que praticamente fez tudo voltar a como era
anteriormente.
“Chegou
um momento em que tanto empregador como empregado estão aguardando, perceberam
que eram vítimas. Muitos podem estar esperando para contratar. Toda essa neura
se criou. Acabou o ano e se iniciou outro ano e ainda não foi votado.”
Fonte:
G1
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