A
carga tributária do Brasil, que corresponde a 35,5% do PIB (Produto Interno
Bruto), já ultrapassou o limite do suportável para uma economia que precisa
crescer a taxas maiores do que a dos últimos anos. Estudos do professor Jack
Mintz, da Universidade de Calgary, apontam que a arrecadação no Brasil é maior
que a arrecadação média dos países. Numa relação dos 90 países que mais
tributam as empresas, por exemplo, o Brasil ocupa o oitavo lugar.
Nos
últimos 23 anos, a arrecadação da União como um percentual do PIB cresceu 73% e
há um justificado temor de que seja mantida essa tendência. Não é este, porém,
o caminho que está sendo seguido pela maioria dos países, que tem buscado
reduzir a tributação sobre as empresas. Segundo Mintz, países como Reino Unido,
Itália, Grécia, Turquia, Rússia, Índia, China, Japão, África do Sul e muitos
outros seguiram um caminho diverso do brasileiro. São inúmeros casos de
sucesso. A Suécia, por exemplo, provou ser possível reduzir a arrecadação
reduzindo gastos governamentais sem abrir mão de serviços públicos de
qualidade. O Canadá reduziu tributos sem abalar o equilíbrio fiscal.
O
Brasil, infelizmente, não faz parte deste grupo e vale-se de um sistema que
tira notas próximas de zero nos cinco princípios de um bom sistema tributário:
eficiência, simplicidade, transparência, equidade e flexibilidade. O princípio
da equidade é vilipendiado quando o Governo adota um modelo de isenções
concedidas discricionariamente a certos grupos ou setores específicos. A
eficiência, que determina que a tributação deve ser neutra de forma a não
distorcer as decisões econômicas, também tem sido totalmente abandonada pelo
Governo.
O
mesmo acontece com os demais princípios, mas este inferno astral ganha
contornos ainda piores quando o foco é a tributação sobre a conta de luz.
A
tributação sobre a energia elétrica tem impacto sistêmico sobre a
competitividade da economia e é altamente regressiva, onerando
desproporcionalmente a população mais pobre. No entanto, no Brasil a
eletricidade é um dos serviços mais tributados. O Setor Elétrico representa
2.2% do PIB brasileiro, mas participa com 5,2% da arrecadação total do
PIS-Cofins e 8,4% do total de ICMS.
A
estrutura tributária do Brasil induz a uma elevada tributação de energia
elétrica e introduz distorções que resultam na incidência cumulativa da
tributação da eletricidade, prejudicando nossa competitividade. Foi o que
afirmou recentemente o professor Bernard Appy, ex-secretário executivo do
Ministério da Fazenda. Appy destacou três fatores que conduzem à distorção na
tributação da eletricidade: o modelo de tributação do ICMS e a consequente
guerra fiscal; falhas no sistema de tributos indiretos; e o excesso de encargos
setoriais.
Os
diagnósticos são claros e em boa parte coincidentes, tanto na visão de um
acadêmico com vivência internacional quanto na de um especialista brasileiro.
Diante desse diagnóstico, do qual torna-se cada vez mais difícil encontrar um
economista que discorde, não faz sentido que o país continue sua escalada da
ampliação de gastos públicos e de aumento de carga tributária.
É
necessário reverter essa tendência e aqui vão algumas sugestões: eliminar a
guerra fiscal (ICMS), deslocando a maior parte das alíquotas interestaduais
para os Estados Destinos; eliminar a cobrança em cascata de ICMS e PIS-Cofins;
e reduzir as alíquotas de PIS-Cofins e ICMS sobre energia elétrica.
Há
várias outras sugestões, mas todas são derivadas do mesmo princípio: para que o
Brasil cresça mais é essencial que o nosso sistema tributário seja mais justo e
equilibrado. Os governos federal, estaduais e municipais precisam interromper
suas cômodas "políticas" fiscais baseadas no aumento de carga
tributária para fazer frente aos seus aumentos de gastos. É hora da sociedade
brasileira dar um basta e cobrar mais eficiência e produtividade dos governos.
Fonte:
DCI – SP
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