O
crescimento da presença das empresas brasileiras no mercado financeiro
internacional está revolucionado o perfil dos contadores no país. Além de
aumentar a demanda, o novo cenário pede profissionais com um perfil mais
estratégico e voltado para o mundo dos negócios.
Isso
significa que a imagem de senhores sisudos que passam o dia atrás de uma
calculadora científica e de uma montanha de formulários não cola mais com essa
carreira. "O profissional de contabilidade deixou de ser tecnicista",
afirma Edgar Cornachione, professor da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).
Os
executivos das principais empresas brasileiras confirmam isso. Segundo pesquisa
da consultoria Robert Half divulgada em julho, 96% das companhias brasileiras
admitem que os profissionais de contabilidade tornaram-se peças centrais para a
tomada de decisões.
De
acordo com especialistas, o aquecimento da economia e o crescimento da
participação brasileira no mercado internacional são os principais fatores para
essa mudança nos rumos da profissão. "A competição está mais acirrada.
Isso faz com que a empresa fique mais pressionada pelo mercado", diz
Edilene Santana Santos professora da Escola de Administração de Empresas de São
Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).
Nesse
novo cenário, as companhias estão mais cautelosas durante os processos
decisórios. E, por conta disso, cresce a demanda por profissionais capazes de
analisar todas as variáveis em questão.
O
pesquisador da USP exemplifica isso com situações de compra de ativos pela
empresa. Segundo ele, antes, o contador era chamado para apenas registrar a
operação. "Hoje, ele participa da decisão junto com os outros
gestores", diz.
O
fenômeno é uma tendência mundial. "Recentemente, os países membros do G20
definiram que é prioritária a adoção de uma linguagem comum de contabilidade
entre as nações do mundo", lembra Maria Clara Cavalcante Bugarim,
vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do Conselho
Federal de Contabilidade (CFC).
Sem
normas universais para o exercício da contabilidade, os países viviam em uma
espécie de torre de Babel. "Era possível que uma empresa, de acordo com as
regras usadas no Brasil, fosse altamente lucrativa, mas que em outro país
apresentasse prejuízo, apenas por causa das diferenças entre as normas",
afirma a especialista.
Por
isso, a partir de 2007, o Brasil passou a adotar o International Financial
Reporting Standards (IFRS), o conjunto de regras contábeis determinados pela
International Accounting Standards Board (IASB), com sede em Londres.
"Isso dá mais segurança para os acionistas", explica.
O
novo conjunto de regras cooperou para a revolução na carreira. "O
exercício da contabilidade era bem formalista. Tudo estava previsto na
lei", explica Edilene, da FGV. Nem sempre, contudo, a legislação
correspondia à realidade de todas as empresas. Um exemplo disso, segundo a
professora, era o momento de registrar a depreciação dos ativos da empresa. No
caso de veículos, ela explica, a Receita Federal determina que após um período
de cinco anos de uso, o valor do carro é igual a zero.
"No
entanto, há muitos carros rodando com mais de cinco anos. Mas o contador não
avaliava o tempo real de vida útil dos ativos. Seguia apenas o que as regras
mandavam", diz. Com o IFRS, o profissional precisa julgar a vida econômica
real do ativo. "E, para isso, ele precisa entender bem do negócio".
Por
isso, o contador não pode trabalhar em uma empresa sem entender qual a lógica
por traz de cada dado que registra nos relatórios. "Antes era possível ser
um bom contador sem entender tanto do negócio em questão. O profissional apenas
reagia às transações", afirma Cornachione, da USP. "Agora, ele deixa
de ser apenas a pessoa que tinha o conhecimento da linguagem dos negócios para
deter conhecimentos sobre a lógica do negócio".
Nesse
contexto, circular e compreender todas as áreas da companhia é essencial para o
profissional, afirma William Monteath, diretor de operações da Robert Half. "Isso
o torna mais completo, afinal o setor de finanças interage com todos os
outros", diz. Fluência em inglês, pós-graduação no setor de atuação e
capacidade de liderança completam os requisitos do contador procurado pelas
grandes companhias brasileiras.
Atualmente,
os serviços de auditoria e consultoria, segundo os especialistas, são os que
oferecem as melhores oportunidades de salário e carreira. Isso se deve, de
acordo com Edilene, da FGV, ao fato de que, desde 2008, as empresas de grande
porte são obrigadas a contratar serviços de auditoria externa. Até então, a
exigência estava restrita às companhias de capital aberto.
Além
disso, o crescimento economia brasileira também está puxando a demanda por
profissionais no setor. Indústria e mercado financeiro lideram as contratações,
apontam os especialistas. Mas, diante da miríade de oportunidades, profissional
deve manter o foco. "Ele precisa repensar sua carreira e ver nitidamente
em qual canoa quer colocar o pé. Para então, investir as fichas", afirma o
professor Cornachione.
Texto
confeccionado por: Kleber Ribeiro
Fonte:
Site Contábil
Nenhum comentário:
Postar um comentário