A
opinião é quase unânime entre os contribuintes: no Brasil se paga muito imposto
e não se tem o retorno adequado. No ano passado, o brasileiro precisou
trabalhar 150 dias (ou cinco meses) apenas para cobrir as despesas com
tributos, número que tem aumentado progressivamente. Também em 2013, o País
teve carga tributária de 36,42% sobre o Produto Interno Bruto (PIB), a maior
desde 1988. Muito se reclama - e se constata - de que o retorno tem sido cada
vez mais desproporcional ao que se arrecada, mas nada efetivo é feito. Afinal,
diante das queixas sobre o peso dos impostos sobre o bolso do cidadão e do
caixa das empresas, porque uma reforma tributária não consegue ser feita no
Brasil?
Para
os especialistas, a reforma tributária - tanto discutida e apontada como
solução para o problema - é vista como utopia. Para eles, a situação atual tem
sido bastante confortável para o governo - que mantém gastos astronômicos com a
máquina pública e aumenta a arrecadação continuamente. A solução para uma
possível "reforma", apontam, é deixar tudo como está e, aos poucos,
ir simplificando algumas cobranças com medidas pontuais.
No
ano passado, por exemplo, foram arrecadados R$ 1,85 trilhão em todo o País pela
União e R$ 9,6 bilhões no Ceará, conforme informações do site Impostômetro, da
Associação Comercial de São Paulo. Já Fortaleza alcançou os R$ 4,5 bilhões de
receitas arrecadadas, conforme exposto no Portal da Transparência do Município.
"Gostaria
que o povo brasileiro, que não é muito apegado a protestos e reclamações,
mudasse essa mentalidade. O futuro do País depende da população, ao exigir
daqueles que fazem as leis - Legislativo e ao Executivo. A população não cobra
e eu não sei o que aconteceu que, no Brasil, aconteceram aquelas manifestações
e, de repente, não se fala mais nisso", afirma o presidente do Instituto
Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Eloi Olenike.
De
acordo com ele, a reforma tributária não ocorre por falta de vontade política,
além da ausência de pressão por parte da população. "Já desistimos de
falar em reforma. Queremos ações por parte do governo que sejam pelo menos
pontuais", afirma.
Ele
ressalta que no Brasil são pagos cerca de 63 impostos diferentes, ficando na
14ª posição entre os países com maior carga tributária. Porém, avalia, o
retorno em aplicação para o contribuinte é muito inferior a de outros países
também em desenvolvimento - como Argentina e Uruguai, que conseguem direcionar
melhor os recursos. Desse modo, cabe ao cidadão pagar pelo mesmo serviço duas
vezes.
Segundo
o IBPT, a arrecadação da União foi de 25,54% sobre o PIB em 2013, enquanto que
tributos estaduais foram de 9,08% e municipais 1,83%. Com isso, o Brasil figura
como o país com a contribuição mais pesada dentre os membros do Brics (Brasil,
Rússia, China, Índia e África do Sul).
Nem
só de desinteresse do governo para realizar uma reforma vive o aumento da
tributação. A falta de pressão da população também contribui para que os
políticos legislem em causa própria. "A cultura do brasileiro, desde a
nossa formação, é esperar tudo do estado, que existe como o grande provedor.
Nós não nos sentimos muito envolvidos com a solução dos problemas e esperamos
que um novo governador, prefeito, presidente ou presidenta venham resolver
problemas que não têm muito a ver com eles", analisa sociólogo e professor
da Universidade Federal do Ceará (UFC), André Haguette.
Segundo
ele, como o cidadão não se sente vinculado e os partidos políticos não
funcionam, "ninguém cobra de ninguém". Isso porque, explica, a
votação no Brasil é proporcional, sendo muitas vezes eleitos candidatos pouco
conhecidos, que saem em vantagem devido aos votos recebidos pela legenda.
Fonte:
Diário do Nordeste
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