Se
existem muitas dúvidas sobre as exigências e a parte operacional do Sped
Social, os escritórios de contabilidade têm pelo menos uma certeza: os custos
vão subir. O programa vai demandar investimentos em treinamento, mão de obra e,
possivelmente, tecnologia. O aumento deve ser da ordem de 20%, estima Márcio
Massao Shimamoto, diretor do Grupo King de Contabilidade, com aproximadamente
470 clientes. Shimamoto acredita que esse aumento de custos vai perdurar por um
ano, até que todo o ciclo de inclusões do eSocial se complete. Passado esse
prazo, a elevação será diluída com a simplificação dos procedimentos e ganhos
em agilidade.
"O
primeiro investimento tem de ser em capacitação profissional", diz Danilo
Lollio, gerente de legislação da WoltersKluwer Prosoft. Segundo ele, falta
conhecimento a muitos profissionais do setor e "vai faltar mais ainda
quando as empresas precisarem se adaptar à nova realidade".
Nem
os próprios escritórios estão preparados. Pesquisa realizada pela Prosoft em
dezembro com 1.146 entrevistas indica que 39% das empresas contábeis ainda não
têm uma estratégia para aderir ao programa. Segundo Lollio, treinar os
profissionais será uma tarefa dos escritórios, já que o custo de capacitação é
"relativamente alto".
As
palestras sobre o eSocial realizadas atualmente - inclusive por sua empresa -,
ainda sem o conteúdo definitivo do programa, custam cerca de R$ 800 por pessoa.
"Um curso bem feito, com enfoque prático, terá de ser feito em dois ou
três dias, no mínimo, e não vai custar menos de R$ 2 mil", prevê. Esse
custo vai sair do caixa dos clientes. Os escritórios prometem repassar o
aumento dos encargos.
O
problema é o período de adaptação, afirma Renato Coelho, tributarista, sócio
fundador do escritório Stocche, Forbes, Padis, Filizzola, Clapis Advogados.
"A exemplo do que ocorreu no início da escrituração eletrônica, muitas
empresas não estão aptas. Vão precisar investir em capacitação e softwares.
Esse será o preço da adaptação, mas depois dele os custos vão cair",
defende.
A
principal dificuldade é quanto à adequação de sistemas e a sincronização das
informações, comenta Cintia Ladoani Bertolo, tributarista do escritório
Bergamini Collucci Advogados. "As áreas das empresas costumam usar
sistemas diferentes, até por conveniência. Esses sistemas muitas vezes não
conversam entre si, o que traz problemas ao cruzamento de informações",
afirma.
Um
exemplo: a contribuição previdenciária de muitas empresas é feita pelo sistema
híbrido, com base na folha de pagamento e na receita bruta. Pode ser que o RH e
a área financeira usem sistemas incompatíveis, gerando informações divergentes.
Antes havia tempo para conciliá-las. A partir do eSocial, a informação passa a
ser transmitida junto com a folha de pagamento.
O
volume de exigências preocupa. "Ao todo são 46 obrigações novas que vão
requerer cadastro", afirma Welinton Mota, diretor tributário da Confirp
Consultoria Contábil. "São 46 tipos de arquivo XML ou layouts, num total
de 2.540 tags [linhas de registro], de acordo com as estatísticas de
especialistas em software."
Shimamoto
estima em 150 os novos campos de inclusão de informações, com base no que viu
no layout provisório. São informações que antes não eram prestadas. Cabia ao
poder público fiscalizá-las. É o caso dos dados de saúde ocupacional.
"Ninguém
era obrigado a informar todos os exames que o funcionário fazia. Precisava
tê-los à disposição da fiscalização", diz o diretor da King. "Agora é
preciso informar cada exame. Os escritórios de contabilidade não têm essas
informações no seu cadastro hoje."
Welinton
Mota acredita que muitos procedimentos terão de ser revistos. O pagamento das
férias, por exemplo. Legalmente, precisa ser feito com dois dias de
antecedência da data de saída do funcionário. Muitas empresas ignoram a regra e
efetuam o depósito junto com o pagamento do salário. Com a necessidade de fazer
o comunicado eletronicamente e a comunicação tem de estar conectada à operação
de fato, quem não seguir a norma legal estará sujeito a multa.
Fonte:
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário