'Herança' de pagamentos
não realizados no ano passado piora a atual situação da política fiscal
brasileira
BRASÍLIA - O resultado
fiscal de 2013 deixou contas para 2014, que vão aparecer especialmente nos
primeiros meses do ano e devem pressionar negativamente as expectativas em
torno da política fiscal brasileira. Além do volume de despesas postergadas nos
últimos dias de dezembro de 2013 para janeiro deste ano, o governo terá que
aumentar as transferências para Estados e municípios com a divisão obrigatória
dos recursos das receitas dos débitos tributários pagos nos programas de
parcelamento (Refis). O repasse de R$ 1,95 bilhão como compensação da Lei
Kandir para os governos regionais exportadores também ficou para 2014.
"A diferença do
início de 2011, quando víamos o começo ruim de um ano bom, hoje veremos o
começo ruim de um ano pior", avalia o economista-chefe da corretora
Tullett Prebon, Fernando Montero. Para o especialista, o resultado das contas
de Tesouro Nacional acentuará o retrato pouco animador para a política fiscal
em janeiro com a "herança" dos pagamentos não feitos no final do ano
passado. "Poucos dias após o ministro Mantega antecipar um superávit
próximo de R$ 75 bilhões em 2013, já proliferam as evidências que o governo em
dezembro jogou despesas e repasses para janeiro", avalia.
Do lado das receitas, uma
base muito forte de comparação em janeiro de 2013 deve zerar o crescimento real
da arrecadação em janeiro deste ano, enquanto as transferências atrasadas
tendem a derrubar as receitas líquidas. Do lado das despesas, segundo Montero,
haverá alguma desaceleração por um reajuste menor no salário mínimo e
possivelmente, a interrupção no auxílio à Conta de Desenvolvimento Energético
(CDE), fundo setorial que banca a redução da conta de luz. Por outro, os
represamento dos repasses vão pressionar negativamente o resultado do mês, que
sazonalmente é bastante favorável. O próprio secretário do Tesouro Nacional,
Arno Augustin, já antecipou que o resultado é favorável.
O economista prevê uma
economia de R$ 16,0 bilhões em janeiro de 2014, ante R$ 26,3 bilhões no mesmo
mês 2013. Mas mesmo assim, diz ele, o resultado deverá mostrar receitas
líquidas caindo 4,1% em termos reais e despesas crescendo 9,5%. Para ele, mesmo
com uma recuperação da arrecadação, a estrutura do fiscal continua desfavorável
com um gasto crescendo maior dos que as receitas.
Além do represamento de
despesas, o governo terá que lidar com o impacto fiscal negativo da decisão da
Caixa Econômica Federal de encerrar irregularmente 525 mil contas de poupança,
medida que serviu para engordar o lucro do banco em 2012 e os dividendos
repassados ao governo. Com a descoberta da medida, o governo terá de reverter a
decisão.
Fonte: Adriana Fernandes-Agência
Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário