Empregadas
e patrões questionaram a constitucionalidade da proposta de regulamentação do
trabalho doméstico e exigem mais debate antes da votação da matéria na Câmara.
O tema foi alvo de audiência pública na Comissão de Legislação Participativa,
nesta quarta-feira.
Desde
abril, a Emenda Constitucional 72 estende vários direitos trabalhistas aos
domésticos. Alguns deles já estão valendo, como o salário mínimo, o 13º salário
e a carga horária de oito horas diárias de trabalho.
Outros
direitos ainda dependem de regulamentação, como o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS), o trabalho noturno e o seguro desemprego. Essas e outras regras
constam de proposta (PLP 302/13) já aprovada no Senado e que aguarda, agora, a
votação no Plenário da Câmara.
No
entanto, a Federação dos Trabalhadores Domésticos de São Paulo, filiada à Força
Sindical, identifica inconstitucionalidades gritantes no texto.
Uma
delas seria a isenção de pagamento da contribuição sindical para patrões e
empregados, como afirma a advogada da federação, Fabíola Ferrari. Para que o
sindicato mantenha a sua estrutura, o atendimento jurídico, os cursos de
qualificação e requalificação profissional e atendimento com psicólogos e
assistentes sociais, precisamos de dinheiro; e o dinheiro vem da contribuição
sindical. Por que a contribuição sindical é obrigatória para todas as
categorias e não será obrigatória para a categoria das domésticas?
Fabíola
Ferrari lembra que, com base na proposta de salário mínimo para 2014, a
contribuição sindical (equivalente a um dia de trabalho no ano) seria de R$
24,09.
Ainda
segundo a federação das domésticas, também são inconstitucionais os artigos que
tratam do banco de horas e da dispensa de acordo ou convenção coletiva para a
fixação da jornada de trabalho.
Os
patrões também criticaram o texto. O presidente da ONG Doméstica Legal, Mário
Avelino, afirmou que a proposta mantém a estrutura escravocrata, patriarcal e
colonialista do trabalho doméstico. Avelino sugeriu uma série mudanças para
aperfeiçoar o texto. Nós queremos uma desoneração maior do empregador. Nossa
proposta é de que o INSS do patrão vá de 12% para 4%. Queremos também que o
seguro de acidente de trabalho de 0,8% seja bancado pelo Tesouro Nacional, o
que já seria menos um custo. E, para moralizar esse projeto de lei, queremos
que o empregador que não assine a carteira seja punido com multa financeira.
A
coordenadora da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho,
Tânia Mara Costa, avaliou que a proposta teria maior efetividade se incluísse o
trabalhador doméstico na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT - Decreto-Lei
5.452/43) e fizesse apenas alguns ajustes específicos em relação à categoria.
Ela
identificou no texto algumas dificuldades de fiscalização trabalhista e
defendeu aperfeiçoamento dos artigos que tratam de contrato por tempo
determinado e de sobreaviso (como, por exemplo, o caso em que a empregada dorme
na casa do patrão e tem de ficar atenta a crianças que acordam de madrugada).
A
deputada Luíza Erundina (PSB-SP) criticou ainda o fato de a regulamentação do
trabalho doméstico ter sido elaborada unicamente por uma comissão mista de
deputados e senadores e depois aprovada no Senado sem debate prévio com a
sociedade civil.
Erundina
não admite que isso se repita agora na Câmara. Que (a proposta) passe por todas
as comissões de mérito, para que a matéria tenha a oportunidade de ser
discutida e aperfeiçoada. O relatório que saiu daquele grupo de trabalho
comprometeu os avanços previstos na PEC que foi aprovada. O mais grave é que
vem para a Câmara e, da mesma forma, não passará por nenhuma comissão de mérito
e vai direto para o Plenário sem nenhum debate com a sociedade. É algo muito
grave.
Os
debatedores admitem que o atraso na regulamentação gera dúvidas e conflitos que
prejudicam as domésticas, mas argumentam que os danos serão maiores se o texto
for aprovado como saiu do Senado.
Erundina
sugeriu uma mobilização das domésticas junto aos líderes partidários para
exigir a tramitação da proposta nas comissões da Câmara ou, no mínimo, uma
Comissão Geral no Plenário da Câmara, antes da votação final. Várias
trabalhadoras acompanharam a audiência pública vestindo camisetas onde se lia
dignidade, respeito e justiça para o emprego doméstico.
Fonte:
Câmara dos Deputados Federais
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