Diante
da complexidade do sistema tributário brasileiro, estima-se que quase todas as
empresas brasileiras enviam documentos eletrônicos com erros ao Fisco. Nas
contas da SLM Advogados, seriam 95% das empresas. E as inconsistências não são
poucas. Numa única declaração, o escritório chegou a encontrar 5.724 problemas.
No caso, a multa estimada foi de R$ 20 milhões.
Mas
as multas podem ser salgadas para empresa mesmo com um número bem menor de
erros. Em outro diagnóstico, a SLM identificou 15 inconsistências, mas estimou
a multa em R$ 6 milhões. Num terceiro caso, um único erro, repetido 300 vezes,
resultaria em auto de infração de R$ 600 mil. "Quer dizer, é difícil
estimar [o valor]. A multa varia de acordo com a natureza da infração",
diz a sócia do escritório, Ana Paula Lazzareschi de Mesquita.
O
grande volume de erros vem aparecendo na medida em que a fiscalização ficou
mais rígida, com a implementação do Sistema Público de Escrituração Digital
(Sped), há cerca de quatro anos. Com isso, escritórios de advocacia que atuavam
principalmente para recorrer dos autos de infração aplicados, passaram também a
fazer um trabalho preventivo para as empresas.
A
SLM Advogados, por exemplo, presta consultoria jurídica no sentido de simular a
autuação de um fiscal, medindo a probabilidade e valor das possíveis multas. Na
medida em que o medo das autuações cresce, com o Sped, o volume de trabalho
para os advogados também aumenta. Segundo a sócia da SLM, a demanda pelos
serviços tributários expandiu cerca de 50% nos últimos 12 meses, o que resultou
na contratação de oito funcionários.
Ela
ressalta que o trabalho dos escritórios de advocacia é complementar ao dos
contadores. Em posse dos arquivos que seriam enviados ao Fisco, o escritório
simula um auto de infração, como se fosse um fiscal. Após várias revisões com o
contador da empresa, chega-se numa versão final.
"Nosso
trabalho é ver o que o fiscal iria ver. Quer dizer, estamos antecipando o
ciclo. Em vez de a empresa tomar o auto e ir atrás do advogado para recorrer,
invertemos isso. Chegamos antes, para que não haja auto."
Milhões de regras
O
motivo pelo qual os contadores não conseguem dar conta de preencher os arquivos
eletrônicos que vão para a Receita é o número exorbitante de regras. "É
humanamente impossível, para um contador, que toma conta da parte fiscal,
incorporar todas as atualizações", diz a advogada.
No
banco de dados da Systax, empresa de tecnologia voltada para a área fiscal, há
1,6 milhão de regras. Contudo, o diretor da empresa, Fábio Rodrigues afirma que
o número total de situações fiscais é ainda maior. Combinando as regras sobre
base de cálculo com as de alíquotas, seriam 8,6 milhões de possibilidades
reais.
Após
anos de pesquisa para consolidar o banco de dados tributário, ainda seria
necessário fazer as atualizações diárias. Rodrigues diz que é preciso avaliar
de 20 a 30 documentos fiscais por dia. Após filtrados, saem pelo menos dez
novas regras diárias.
"Por
isso dizemos para os clientes que não adianta colocar a culpa no contador. Ele
precisaria ficar 20 dias por mês se atualizando. Não tem jeito", afirma
Ana Paula Mesquita.
Armadilhas
Segundo
Rodrigues, para acertar na declaração fiscal é preciso estar atento a uma série
de ciladas tributárias. A Tabela do Imposto sobre Produtos Industrializados
(Tipi), por exemplo, tem 10 mil itens. Mas nem todas as situações tributárias
estariam inclusas. Segundo o diretor, seriam 60 mil situações, pelo menos.
O
mesmo acontece com a classificação dos itens pela Nomenclatura Comum do
Mercosul (NCM). Por usar o código correto, as empresas acreditam que não terão
problemas com o Fisco. Mas segundo Rodrigues, esse entendimento é equivocado.
Ele
afirma que um pacote de açúcar de 1 kg, por exemplo, tem substituição
tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Quer
dizer, como a indústria já paga o tributo por toda a cadeia, o varejo fica
isento. Para o pacote de 5 kg, isso não ocorre - indústria e varejo recolhem
ICMS separadamente. "Mas a NCM é a mesma para os dois pacotes".
Outro
exemplo citado por ele é o de ketchup. Na versão picante, o condimento recolhe
certos tributos. Na versão normal, outros. "Então, apenas com a NCM, a
empresa vai errar."
"Com
o software, encontramos erros de cadastro do produto, endereço de fornecedor,
inscrição estadual, entre vários outros", diz o diretor comercial da
empresa, Régis Lima.
Fonte:
DCI – SP
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