Nos
últimos anos, as isenções e reduções de impostos foram uma das principais armas
da política econômica do governo federal. Do início de 2010 até o mês passado,
segundo dados da Receita Federal, o governo instituiu 237 desonerações
tributárias, algumas incluídas na mesma lei, medida provisória, decreto,
portaria ou resolução. Destas, 91 tinham vigência indeterminada. As outras 146
tinham prazo definido.
As
isenções ou reduções praticadas pela União atenderam diversos setores, como as
desonerações do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros,
produtos da chamada linha branca, material de construção e o setor moveleiro e
as medidas tributárias relativas à Copa das Confederações, à Copa do Mundo no
Brasil e aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Apesar
dessa aposta massiva nas desonerações (média de aproximadamente 50 instituídas
por ano), os resultados na economia têm sido pífios. O Produto Interno Bruto
(PIB) do Brasil cresceu abaixo do registrado em outros países emergentes nos últimos
anos e, no final de agosto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) informou que a economia nacional teve retração pelo segundo trimestre
seguido, o que configura recessão técnica. Assim como os outros componentes da
política econômica do governo Dilma Rousseff (PT), as desonerações tributárias
também têm sido criticadas.
O
economista Sérgio Bessa, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
considera que as isenções e reduções de impostos, por terem sido desiguais, não
impediram os resultados ruins da economia. "Numa ponta, nós tivemos
desonerações. Em outra, os impostos têm aumentado. Dessa forma, na média, os
resultados não foram interessantes. As desonerações não têm atendido todos os
setores da mesma maneira", critica.
O
economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexandre Alves
Porsse cita que as desonerações definitivas ou com perspectiva de continuidade,
como a que ocorreu na folha de pagamento, têm impactos mais elevados e
representam estímulos mais fortes para a atividade econômica do que as
temporárias.
Ele
argumenta que o sistema tributário brasileiro já espanta investidores pela sua
carga elevada e pela sua alta complexidade. Embora todo alívio nesse peso seja
algo digno de comemoração, as constantes alterações geram insegurança. "O
que precisamos é de uma reforma tributária ampla", afirma o professor.
"No
Brasil, o regime de tributação é altamente complexo e fragmentado. Em outros
países, geralmente há um imposto único sobre o valor agregado. No Brasil, nós
temos IPI, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), diversos
tributos para uma mesma base de incidência", critica Porsse.
"Para
empresas, há dois problemas principais. O primeiro é que essa situação gera a
necessidade de uma estrutura interna especializada em questões de tributos e de
uma estrutura jurídica, e isso traz custos e compromete a eficiência da
produção. Em segundo lugar, a fragmentação tributária em esferas federal,
estadual e municipal dificulta o planejamento. E, se a incidência de tributos
vai sendo alterada a todo momento, gera-se uma situação de incerteza, e a
consequência é menos investimento e menos crescimento", diz o professor.
Fonte:
Folha de Londrina - PR
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